
Conflitos no Irã, Israel, Gaza e Ucrânia expõem como cinco países podem bloquear decisões que afetam milhões de vidas
O mais recente conflito entre Israel e Irã expõe mais uma vez a fragilidade do Conselho de Segurança da ONU. Ele se reunirá para divulgar um resultado já previamente conhecido de todos: os Estados Unidos vão vetar qualquer resolução contrária aos interesses de Israel e a Rússia fará o mesmo naquelas que afetem o Irã. Em pleno século XXI, o Conselho de Segurança se mostra obsoleto, vivendo em uma realidade que não serve mais aos interesses dos cidadãos do mundo.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas deveria ser o guardião da paz mundial. Na prática, tornou-se um palco de impasses diplomáticos onde o veto de uma única nação pode anular a vontade de 14 outros países. Esta realidade se tornou ainda mais evidente nos conflitos recentes em Gaza e na Ucrânia, onde resoluções cruciais foram bloqueadas por interesses geopolíticos.
Criado em 1945 com a missão de manter a paz e segurança internacionais, o Conselho possui 15 membros. Cinco deles – Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China – detêm assentos permanentes e o poder de veto. Os outros dez países são eleitos para mandatos de dois anos.
O Veto Como Arma Política
O poder de veto, inicialmente concebido para garantir que as grandes potências não fossem forçadas a cumprir decisões contrárias aos seus interesses vitais, transformou-se numa ferramenta de paralisia institucional. Desde 1946, foram registrados mais de 290 vetos, sendo que apenas um é suficiente para derrubar qualquer resolução.
A guerra na Ucrânia ilustra perfeitamente essa disfunção. Quando a Rússia invadiu o território ucraniano em fevereiro de 2022, o Conselho de Segurança se mostrou completamente incapaz de agir. Como a própria Rússia possui poder de veto, qualquer tentativa de condenação ou medida punitiva foi automaticamente bloqueada pelo país agressor.
Da mesma forma, o conflito em Gaza evidenciou como os Estados Unidos utilizam seu veto para proteger Israel. Desde outubro de 2023, diversas resoluções pedindo cessar-fogo ou condenando ações militares foram vetadas pelos americanos, apesar do apoio da maioria dos membros.
Números que Revelam a Paralisia
Dados da própria ONU mostram a extensão do problema. Entre 2011 e 2023, a Rússia utilizou seu veto 27 vezes, principalmente em questões relacionadas à Síria e Ucrânia. Os Estados Unidos, por sua vez, vetaram 18 resoluções no mesmo período, a maioria envolvendo Israel e Palestina.
China e França também recorreram ao veto, embora com menor frequência. O Reino Unido não exerce esse direito desde 1989, mas sua mera existência já influencia as negociações.
Reformas Propostas, Mudanças Adiadas
Especialistas em relações internacionais defendem reformas urgentes no sistema. As propostas incluem a ampliação do número de membros permanentes, incluindo países como Brasil, Índia, Alemanha e Japão, além da limitação do uso do veto em casos de genocídio e crimes contra a humanidade.
Contudo, qualquer mudança no estatuto da ONU requer aprovação dos próprios membros permanentes – um paradoxo que mantém o status quo. Como observa o embaixador brasileiro Ronaldo Sardenberg: “É como pedir ao lobo para guardar as ovelhas”.
O Custo Humano da Inação
Enquanto diplomatas debatem em Nova York, conflitos se prolongam e civis pagam o preço. Na Síria, mais de 500 mil pessoas morreram numa guerra que se arrasta há mais de uma década, com o Conselho de Segurança incapaz de aprovar medidas efetivas devido aos vetos russos.
No Iêmen, considerada a pior crise humanitária do mundo, milhões enfrentam fome enquanto resoluções para acabar com o conflito esbarram em interesses geopolíticos dos membros permanentes.
Alternativas Emergem
Diante da paralisia do Conselho de Segurança, outros fóruns ganham relevância. A Assembleia Geral da ONU, onde todos os 193 países-membros têm voz igual, passou a desempenhar papel mais ativo. Em 2022, aprovou resolução condenando a invasão russa da Ucrânia por 141 votos contra 5.
Organizações regionais como a União Africana, Liga Árabe e Organização dos Estados Americanos também assumem protagonismo na resolução de conflitos, preenchendo o vazio deixado pelo Conselho.
O Futuro em Questão
A eficácia do Conselho de Segurança está em xeque. Criado numa era de cinco grandes potências, o órgão não reflete mais o equilíbrio de poder do século XXI. Países emergentes questionam por que devem aceitar decisões de um clube exclusivo que não os representa.
A reforma do Conselho não é apenas uma questão de justiça representativa, mas de eficácia institucional. Enquanto o poder de veto permitir que conflitos se prolonguem indefinidamente, a própria razão de existir das Nações Unidas permanecerá questionada.
Por fim, o mundo observa se a ONU conseguirá se adaptar aos novos tempos ou se tornará uma relíquia diplomática incapaz de cumprir sua missão fundamental: garantir a paz mundial.
Tags sugeridas: ONU, Conselho de Segurança, poder de veto, Gaza, Ucrânia, diplomacia internacional, paz mundial, reforma institucional
Frase-chave: poder de veto ONU paralisa decisões
Metadescrição: Conflitos em Gaza e Ucrânia mostram como o poder de veto no Conselho de Segurança da ONU impede decisões que poderiam salvar vidas