
O Congresso Nacional, a casa do povo, deveria ser um retrato fiel da sociedade brasileira. Mas será que é? Uma análise profunda revela um abismo entre o Brasil real, com sua diversidade e desafios, e o Brasil do poder, representado por seus parlamentares.
O Congresso Nacional brasileiro, composto por 513 deputados federais e 81 senadores, é frequentemente apontado como um reflexo da diversidade do país. No entanto, uma análise detalhada dos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pela Câmara dos Deputados, pelo Senado Federal e pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revela um quadro preocupante: o perfil dos parlamentares que ocupam os cargos legislativos está longe de representar a realidade da maioria dos brasileiros.
De acordo com o último Censo do IBGE, a população brasileira é majoritariamente parda (45,3%), seguida por brancos (43,5%), pretos (10,2%) e indígenas ou amarelos (1,2%). A renda média mensal per capita no Brasil é de aproximadamente R$ 1.848 (dados de 2023), e mais de 50% da população vive com menos de dois salários mínimos. Além disso, cerca de 64,6% dos brasileiros se declaram católicos, enquanto 22,2% são evangélicos e 8% não possuem religião. No entanto, esses números contrastam drasticamente com o perfil dos parlamentares brasileiros. Entre os 513 deputados federais eleitos em 2022, apenas 30% são pardos ou pretos, enquanto 65% são brancos. A representação indígena é praticamente inexistente, com apenas cinco deputados autodeclarados indígenas. Já entre os 81 senadores, a proporção é ainda mais desigual: 78% são brancos, e apenas 15% são pardos ou pretos.
Um Congresso longe da realidade racial
A população brasileira é diversa. No entanto, essa diversidade não se reflete no Congresso. Apenas 30% dos deputados federais são pardos ou pretos, e no Senado, a proporção é ainda menor, apenas 15%. Os indígenas, que representam 1,5% da população, têm uma representação insignificante, com apenas cinco deputados autodeclarados indígenas. Essa falta de representatividade racial é um problema sério, pois impede que as vozes e os interesses da maioria da população sejam ouvidos e considerados.

A riqueza distante da realidade do povo
A disparidade entre a renda dos parlamentares e a da população é gritante. Enquanto a renda média do brasileiro é de cerca de R$ 1.848 (dados de 2023) por mês, o patrimônio médio declarado por um deputado federal é de R$ 2,5 milhões. No Senado, os valores são ainda mais exorbitantes. O senador mais rico, Oriovisto Guimarães, declarou bens avaliados em R$ 239,7 milhões. O deputado mais rico, Eunício Oliveira, possui um patrimônio de R$ 158,1 milhões, incluindo 101 imóveis rurais, participações societárias milionárias e carros de luxo. Essa concentração de riqueza nas mãos dos parlamentares levanta questões sobre seus interesses e prioridades. Será que eles estão realmente preocupados com os problemas da população que ganha salário mínimo?
Profissões que não representam a diversidade do Brasil
A maioria dos deputados federais são advogados (25%), empresários (20%) e médicos (10%). Trabalhadores rurais, operários e pequenos comerciantes, que representam grande parte da população, praticamente não têm voz no Congresso. No Senado, a situação é semelhante, com 30% dos senadores sendo advogados e 25% empresários. Essa falta de diversidade profissional limita a compreensão dos problemas enfrentados pela maioria da população e dificulta a criação de leis que realmente atendam às suas necessidades.
Religião e agenda conservadora no congresso
Embora a maioria dos brasileiros seja católica, o número de deputados evangélicos cresceu significativamente nas últimas décadas. Atualmente, cerca de 30% dos deputados federais são evangélicos, enquanto apenas 10% são católicos. Essa mudança religiosa no Congresso tem influenciado a agenda legislativa, com a aprovação de projetos conservadores, como restrições ao aborto e aos direitos LGBTQIA+. Esses projetos nem sempre refletem a vontade da maioria da população, levantando questões sobre a laicidade do Estado e a representatividade dos diferentes grupos religiosos.
Mulheres: minoria no poder, apesar de serem a maioria do eleitorado
As mulheres representam 52,65% do eleitorado brasileiro, mas sua presença no Congresso é mínima. Na Câmara dos Deputados, elas ocupam apenas 17,7% das cadeiras, e no Senado, esse número cai para 16%. Essa sub-representação das mulheres é um problema grave, pois impede que suas vozes e seus interesses sejam devidamente representados. A falta de mulheres no poder contribui para a perpetuação de desigualdades de gênero e dificulta a criação de políticas públicas que realmente atendam às necessidades das mulheres.

Um congresso desconectado do Brasil real
Diante desse cenário, fica evidente que o Congresso Nacional está desconectado do Brasil real. A maioria dos parlamentares é branca, rica, advogada ou empresária, e muitos são evangélicos com uma agenda conservadora. Essa falta de diversidade e representatividade compromete a democracia e impede que o Congresso cumpra seu papel de representar os interesses de toda a população. É preciso urgente mudar essa realidade, para que o Congresso seja um espelho da sociedade brasileira, com todas as suas cores, classes sociais, profissões e crenças.
A luta por um Congresso mais justo e representativo
A mudança não será fácil, mas é fundamental para fortalecer a democracia e garantir que o Congresso represente os interesses de todos os brasileiros. É preciso aumentar a participação de mulheres, negros, indígenas e pessoas de baixa renda na política, para que suas vozes sejam ouvidas e suas necessidades sejam consideradas. É preciso renovar a classe política, com a eleição de pessoas comprometidas com a justiça social, a igualdade e a defesa dos direitos de todos.
O papel da sociedade na mudança do Congresso
A sociedade tem um papel fundamental nessa luta por um Congresso mais justo e representativo. É preciso estar atento às eleições, pesquisar os candidatos, conhecer suas propostas e cobrar seus representantes. É preciso participar da vida política, debater os problemas do país, defender seus direitos e lutar por um Brasil mais justo e igualitário.
A esperança de um futuro melhor
Apesar dos desafios, a esperança de um futuro melhor é real. Acreditamos que é possível construir um Congresso mais representativo, que realmente defenda os interesses de todos os brasileiros. Um Congresso que seja um espelho da sociedade, com toda a sua diversidade e riqueza. Um Congresso que trabalhe para construir um Brasil mais justo, igualitário e próspero para todos.