Colapso no mar: sobrepesca fecha empresa de observação de baleias e acende alerta global

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Uma empresa irlandesa de turismo ambiental precisou encerrar as atividades após não conseguir mais avistar baleias em alto-mar. O motivo? A sobrepesca esvaziou o ecossistema marinho da região. O caso expõe uma realidade preocupante: o desaparecimento acelerado da vida marinha diante da exploração industrial desenfreada. E se engana quem pensa que isso está longe do Brasil — nossas águas também estão em risco. Este é um alerta urgente para que o país reavalie sua relação com o oceano antes que o silêncio se torne permanente.

Um alerta que vem do Atlântico Norte: quando até as baleias somem

O Atlântico Norte ficou mais silencioso. A empresa irlandesa Whale Watch West Cork, especializada em turismo ecológico, fechou as portas em maio de 2025 após mais de duas décadas de operação. Segundo o fundador, Nic Slocum, simplesmente “não sobraram baleias para mostrar”. O drama vivido na costa da Irlanda ilustra um fenômeno que vem se intensificando no mundo todo: o colapso ecológico provocado pela sobrepesca industrial.

Slocum explicou que o desaparecimento dos cetáceos está diretamente ligado à queda abrupta da população de pequenos peixes —espadilhas, como sardinhas e arenques — que servem de alimento para grandes predadores marinhos. Ele descreve um cenário “chocantemente desolador”, onde outrora havia abundância de vida e, agora, há apenas silêncio e ausência.

A culpa é da sobrepesca — e não apenas lá fora

O caso irlandês é emblemático, mas está longe de ser isolado. Um relatório da ONU publicado recentemente alertou que mais de 35% dos estoques pesqueiros globais estão sobre-explorados. O The Guardian e a BBC já destacaram o impacto da pesca industrial sobre os ecossistemas costeiros, incluindo a destruição de habitats, captura acidental de espécies não comerciais (como golfinhos, tubarões e tartarugas) e uso de técnicas altamente predatórias, como redes de arrasto de fundo.

No Brasil, o cenário também inspira preocupação. De acordo com o Relatório da Situação Pesqueira Nacional (MAPA, 2024), espécies como o badejo, o robalo e a tainha já apresentam sinais claros de declínio populacional. Em paralelo, cresce a pesca de arrasto nas regiões Sul e Sudeste, altamente impactante e alvo de protestos por parte de comunidades tradicionais, cientistas e ambientalistas.

Turismo ecológico ameaçado

A extinção de espécies marinhas não afeta apenas a biodiversidade. O turismo de observação de baleias, uma atividade que movimenta milhões de dólares por ano em países como Argentina, Austrália e Brasil, depende diretamente da saúde dos oceanos. No Brasil, pontos como Abrolhos (BA), Fernando de Noronha (PE) e a região da Serra da Bocaina (RJ/SP) recebem milhares de visitantes por temporada. Mas até quando?

O pesquisador Júlio Cardoso, do Instituto Baleia Jubarte, alerta: “Se não houver um controle rígido da pesca predatória, poderemos perder um dos maiores espetáculos naturais do planeta.” Ele ainda ressalta que o desaparecimento das baleias também indica um colapso em cadeia de toda a vida marinha, afetando comunidades pesqueiras, o turismo e a segurança alimentar.

O que pode ser feito?

A boa notícia é que soluções existem — e precisam ser aplicadas com urgência. Especialistas sugerem:

  • Criação de áreas marinhas protegidas (AMPs) com fiscalização eficaz;
  • Limitação da pesca de arrasto e incentivo à pesca artesanal sustentável;
  • Monitoramento científico contínuo das populações marinhas;
  • Educação ambiental e incentivo ao consumo consciente de frutos do mar.

O Brasil tem capacidade técnica e científica para liderar a conservação marinha no Atlântico Sul. Mas, sem vontade política e engajamento da sociedade, corremos o risco de seguir o mesmo caminho da Irlanda — rumo a um oceano sem vida.