Brasil tem 11,8 milhões de moradores em unidades de conservação, revela Censo 2022

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O Censo Demográfico 2022 revelou um dado inédito: mais de 11,8 milhões de pessoas vivem em unidades de conservação (UCs) no Brasil. Isso equivale a 5,82% da população do país. Embora essas áreas sejam conhecidas por sua importância na proteção da biodiversidade, os dados também expõem uma realidade complexa e preocupante. Muitos desses brasileiros vivem em condições de vulnerabilidade social, com acesso precário a serviços essenciais como água potável, esgoto e coleta de lixo.

No total, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) identificou 2.365 UCs em território nacional. Destas, 1.138 têm moradores e 1.227 não possuem população residente. A maioria das pessoas que vivem nessas áreas – cerca de 98,7% – está concentrada em unidades de uso sustentável, como Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e Reservas Extrativistas (Resex), que permitem a presença humana com regras específicas de manejo ambiental. Já as unidades de proteção integral, como parques nacionais e estações ecológicas, concentram apenas 1,1% dessa população (aproximadamente 131 mil pessoas), por serem mais restritivas quanto à ocupação humana.

Desigualdade

A desigualdade social entre os moradores dessas áreas é evidente nos dados de saneamento. Segundo o levantamento, 40,3% dos domicílios nas UCs não têm acesso adequado a pelo menos um dos três serviços básicos: água encanada, coleta de esgoto e recolhimento de lixo. Essa taxa é consideravelmente superior à média nacional, que é de 27,3%. Em 856 mil desses lares, os moradores enfrentam a ausência simultânea dos três serviços essenciais. A situação é ainda mais grave nas áreas de proteção integral, onde 4,9% dos domicílios não possuem nem banheiro de uso exclusivo – um índice oito vezes maior do que a média nacional.

As populações indígenas e quilombolas, que somam cerca de 3,5% dos moradores das UCs, estão entre os grupos mais afetados pela falta de infraestrutura. Cerca de 59,9% dos domicílios indígenas e 85,9% dos domicílios quilombolas nessas áreas enfrentam algum tipo de deficiência no saneamento básico. Essas comunidades vivem em territórios tradicionalmente ocupados, muitos dos quais localizados dentro de UCs, e convivem diariamente com a ausência de políticas públicas adequadas.

A maior parte das unidades de conservação com população está sob gestão estadual (66,5%), enquanto 20,8% são federais e 10,9% são administradas por municípios. Essa diversidade de governança, porém, nem sempre se traduz em ações efetivas para a melhoria das condições de vida dos moradores.

Entre as unidades de conservação mais populosas estão a Área de Proteção Ambiental (APA) do Planalto Central, com mais de 600 mil habitantes, seguida pela APA da Baixada Maranhense, com 583 mil, e a APA Upaon-Açu/Miritiba/Alto Preguiças, com mais de 509 mil moradores. Juntas, as dez UCs mais populosas concentram mais de 4,2 milhões de pessoas – ou 36% de toda a população residente em áreas protegidas.

Estados

Os estados com maior número de pessoas vivendo em UCs são São Paulo (2,48 milhões), Maranhão (1,56 milhão), Bahia (1,35 milhão), Rio de Janeiro (1,12 milhão) e o Distrito Federal (1,10 milhão). No DF, destaca-se o dado de que 39,2% da população reside em unidades de conservação – a maior proporção do país.

Os dados do Censo escancaram o desafio de compatibilizar a conservação ambiental com o desenvolvimento humano. As unidades de conservação são pilares da proteção ambiental, mas, ao mesmo tempo, abrigam comunidades que vivem à margem das políticas públicas. A convivência entre floresta e gente, hoje realidade para milhões de brasileiros, precisa ser olhada com mais atenção e sensibilidade por gestores e legisladores.

A presença humana em áreas protegidas é uma realidade que precisa ser reconhecida e incorporada nas estratégias de conservação. A ausência de saneamento básico, acesso à saúde e educação de qualidade são entraves que afetam diretamente a sustentabilidade das comunidades que vivem nessas regiões. É necessário, portanto, pensar em políticas que conciliem proteção ambiental com justiça social.