Brasil bate recorde histórico na exportação de café com receita de US$ 14,7 bilhões

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O Brasil consolidou sua posição como maior exportador mundial de café ao registrar a maior receita cambial da história no setor. Durante a safra 2024/25, o país obteve impressionantes US$ 14,728 bilhões com os embarques do produto, representando um crescimento substancial de 49,5% em relação ao recorde anterior de US$ 9,849 bilhões.

Preços elevados impulsionam resultados históricos

A conquista deste marco extraordinário foi possível graças aos preços elevados da commodity, especialmente no segundo semestre de 2024. Segundo análise do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), esse cenário resultou de menores potenciais produtivos nos principais países produtores mundiais.

“Os preços, principalmente no segundo semestre de 2024, foram bastante impulsionados por menores potenciais produtivos nos principais produtores mundiais, fato que se observou ao longo de praticamente os últimos cinco anos”, explica Márcio Ferreira, presidente do Cecafé.

Os eventos climáticos adversos afetaram significativamente a produção global, com Brasil e Vietnã – que juntos respondem por mais de 50% da produção mundial – enfrentando estiagem e altas temperatures. O Vietnã, maior produtor de café robusta, registrou queda de 17,2% nas exportações em 2024, enquanto o tempo seco prolongado causou uma queda de 20% na produção vietnamita.

Volume mantém Brasil no topo mundial

Apesar da queda de 3,9% no volume exportado, o Brasil manteve sua liderança absoluta no mercado internacional. Durante a safra 2024/25, foram exportadas 45,589 milhões de sacas de 60 kg, equivalentes a 152.938 contêineres, distribuídos para 115 países.

Este desempenho representa o terceiro melhor resultado da história em volume, ficando atrás apenas das safras 2023/24 e 2020/21. O resultado demonstra a resiliência do setor brasileiro mesmo diante de desafios logísticos significativos.

Estados Unidos lideram importações brasileiras

Os Estados Unidos consolidaram sua posição como principal parceiro comercial do café brasileiro, adquirindo 7,468 milhões de sacas na safra 2024/25. Este volume representa alta de 5,65% em relação à temporada anterior e corresponde a 16,4% das exportações totais do país.

A Alemanha manteve-se como segundo maior importador, com 6,526 milhões de sacas (14,3% do total), seguida por Itália (3,554 milhões de sacas), Bélgica (3,088 milhões de sacas) e Japão (2,293 milhões de sacas).

Arábica domina pauta exportadora

O café arábica permaneceu como a espécie mais exportada pelo Brasil, representando 76,4% do total com 34,808 milhões de sacas enviadas ao exterior. Embora tenha registrado queda de 1,9% em relação à safra anterior, manteve sua posição dominante no portfólio exportador brasileiro.

O café canéfora (conilon + robusta) ocupou a segunda posição com 6,572 milhões de sacas (14,4% do total), apesar do declínio de 20,3% na comparação com a temporada 2023/24. Esta redução reflete parcialmente os desafios climáticos enfrentados globalmente.

Cafés diferenciados ganham espaço

Os cafés certificados com práticas sustentáveis ou qualidade superior demonstraram crescimento significativo, respondendo por 19,5% das exportações totais. Foram exportadas 8,907 milhões de sacas desses produtos, volume 1,2% superior ao período anterior.

Mais importante ainda, esses cafés diferenciados geraram receita de US$ 3,292 bilhões, representando 22,4% do total obtido com todos os embarques. O preço médio de US$ 369,56 por saca desses produtos evidencia o valor agregado da sustentabilidade no mercado internacional.

Desafios logísticos persistem

Apesar dos resultados excepcionais, o setor enfrenta gargalos logísticos significativos. Entre janeiro e novembro de 2024, 4.895 contêineres com 1,615 milhão de sacas ficaram retidos nos portos, gerando prejuízos estimados em R$ 42,332 milhões para 27 empresas.

O Porto de Santos manteve sua posição como principal exportador, respondendo por 72,6% dos embarques com 33,079 milhões de sacas. O complexo portuário do Rio de Janeiro foi responsável por 22,7% do total, enquanto o Porto de Vitória registrou 0,8% de participação.

Perspectivas para 2025

A Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) aponta que eventos climáticos continuarão influenciando os preços, juntamente com o aumento do consumo global e a chegada de novos mercados consumidores como a China.

A produção brasileira de café em 2025 deve atingir 51,8 milhões de sacas, uma queda de 4,4% em relação a 2024, segundo projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Esta redução, combinada com a crescente demanda mundial, especialmente em mercados emergentes, sugere a manutenção de preços elevados no mercado internacional.

Sustentabilidade como diferencial competitivo

O crescimento dos cafés diferenciados reflete uma tendência mundial crescente por produtos sustentáveis. Com mais de 23 milhões de sacas exportadas para a Europa – que representa mais da metade do total – o Brasil demonstra sua capacidade de atender às novas regulamentações socioambientais do comércio global.

O Cecafé, fundado em 1999, representa atualmente mais de 100 associados, correspondendo a 96% dos agentes exportadores do país. A entidade continua promovendo o desenvolvimento do setor através de inteligência de dados, ações estratégicas e projetos de responsabilidade socioambiental.

Os resultados da safra 2024/25 consolidam o Brasil como protagonista absoluto no mercado mundial de café, combinando volume, qualidade e sustentabilidade em um cenário de preços historicamente elevados.