
O mundo segura o fôlego diante de uma desaceleração econômica que ameaça prolongar o cenário de crescimento tímido. Segundo o mais recente relatório Global Economic Prospects, divulgado pelo Banco Mundial nesta segunda-feira (10), a previsão de crescimento global para 2025 caiu para 2,3%, o menor nível fora de períodos de recessão desde a crise de 2008. Ainda que uma recessão global esteja fora do radar, o ambiente segue pressionado por tensões comerciais, tarifas crescentes e investimentos paralisados. A esperança repousa em possíveis reavaliações tarifárias e avanços diplomáticos, mas o tom ainda é de cautela.
Perspectiva Global em Queda Livre
O relatório traz um retrato sóbrio da economia global. A estimativa de crescimento de 2,3% para 2025 representa uma desaceleração em relação aos 2,8% registrados em 2024, de acordo com análises da Reuters, Arab News e Economic Times. O principal fator apontado para esse declínio é a intensificação das disputas comerciais — com destaque para os embates tarifários entre Estados Unidos, China e parceiros europeus. A fragmentação econômica também contribui para o enfraquecimento das cadeias globais de suprimentos, minando a recuperação pós-pandemia.
A Crise das Tarifas e o Efeito Trump
A atual desaceleração tem raízes diretas na crise tarifária desencadeada pelo presidente Donald Trump, que, em seu novo mandato, adotou uma política comercial agressiva contra a China, União Europeia, México e até o Canadá. O aumento generalizado de tarifas sobre aço, tecnologia, carros e alimentos provocou reações em cadeia: parceiros comerciais retaliaram com suas próprias medidas, elevando os custos de importação e desacelerando o comércio global. Com isso, cadeias de suprimentos foram desorganizadas, investimentos produtivos congelaram e a confiança empresarial caiu drasticamente — afetando tanto países desenvolvidos quanto emergentes. A “guerra comercial 2.0”, como já vem sendo chamada, é hoje considerada um dos principais entraves à retomada econômica mundial.
Principais Economias em Desaceleração
Estados Unidos — A maior economia do mundo teve sua projeção de crescimento reduzida para 1,4%, número que ainda a mantém fora da recessão técnica, mas sinaliza enfraquecimento da demanda doméstica e investimentos em baixa.
China — A segunda maior economia mantém-se mais resiliente, com projeção de 4,5% em 2025, impulsionada por estímulos fiscais e monetários coordenados. No entanto, o crescimento está abaixo do padrão chinês anterior à pandemia.
Zona do Euro e Japão — Ambos permanecem em terreno morno, com crescimento estimado em 0,7%. A explicação passa por uma combinação de demanda externa fraca, custos elevados e políticas fiscais mais restritivas.
Emergentes Avançam com Desigualdade
Enquanto os mercados emergentes devem crescer 3,8%, ainda abaixo das expectativas anteriores, os países de baixa renda enfrentam maiores obstáculos. Segundo o Banco Mundial, essas nações ainda não recuperaram o crescimento per capita pré-pandemia. A estagnação da redução da pobreza e o aumento da dívida pública acentuam a vulnerabilidade dessas economias, especialmente na África Subsaariana e partes da América Latina.
Comércio Internacional em Erosão
O comércio global — que durante décadas foi motor de expansão e interdependência — deve crescer apenas 1,8% em 2025, menos de um terço da média observada nos anos 2000. Em entrevista à Reuters, o vice-economista do Banco Mundial, Ayhan Kose, comparou o cenário à “neblina na pista”, que impede visibilidade e paralisa investimentos. Apesar disso, negociações comerciais entre EUA e China, que ocorrem em Londres, reacendem alguma esperança de distensão e retomada.
Inflação Controlada, Mas Pressionada
O relatório prevê uma inflação global de 2,9% no próximo ano, com variações regionais. O índice é pressionado por tarifas sobre bens de consumo, rigidez nos mercados de trabalho e preços voláteis de energia. O Banco Mundial, contudo, mantém a avaliação de que o risco de uma recessão global permanece abaixo de 10%, desde que não haja choques geopolíticos ou colapsos financeiros inesperados.
O Que Pode Ser Feito
Entre as recomendações, o Banco Mundial enfatiza a cooperação multilateral como saída para o impasse econômico. Reduções de tarifas, estímulos fiscais coordenados e reformas estruturais são considerados caminhos viáveis. Para as economias em desenvolvimento e de baixa renda, o organismo destaca a necessidade de fortalecer instituições públicas, atrair investimentos privados, ampliar o capital humano e garantir sustentabilidade fiscal de longo prazo.
Interpretação e Perspectivas
O cenário descrito para 2025 não é de colapso, mas de crescimento moderado e desigual, com riscos relevantes no horizonte. A desaceleração das economias desenvolvidas impacta diretamente os emergentes e ameaça consolidar uma década de baixo dinamismo — a mais fraca desde os anos 1960, segundo o relatório. A boa notícia é que ainda há espaço para manobra: acordos comerciais, reformas internas e maior integração internacional podem reverter esse quadro e evitar que a estagnação vire norma.