Autorização digital impulsiona doação de órgãos no Espírito Santo; fila nacional espera por mais de 42 mil transplantes

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Em um gabinete silencioso, uma pessoa olha para a câmera do computador. Após uma rápida videoconferência e uma assinatura digital, um gesto está formalizado. A vida dela pode, no futuro, salvar outras. No Espírito Santo, 171 pessoas já utilizaram a Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos (AEDO) desde abril de 2024. O procedimento, 100% digital e gratuito, é uma tentativa de modernizar e ampliar o registro de doadores no país, que celebra em 27 de setembro o Dia Nacional da Doação de Órgãos.

A data, instituída pelo Ministério da Saúde, busca conscientizar a população sobre um ato de solidariedade que esbarra na burocracia e, muitas vezes, na dificuldade da família em autorizar a doação em um momento de luto. A AEDO tenta mudar essa realidade. O processo é simples: o cidadão acessa o site www.aedo.org.br, solicita um Certificado Digital Notarizado, passa por uma videoconferência com um tabelião e assina o documento, escolhendo quais órgãos deseja doar.

A fila da esperança e os números reais

Enquanto isso, a fila por um transplante no Brasil não para de crescer. Dados do Ministério da Saúde apontam que mais de 42 mil pessoas aguardam por uma chance de recomeço. Os números de 2024 mostram a dimensão do desafio e do sucesso do sistema quando ele funciona. Foram realizados mais de 30 mil transplantes no país até o momento. Os mais comuns são o de rim (6.320) e o de fígado (2.454), entre os órgãos sólidos, e o de córnea (17.107) e o de medula óssea (3.743), entre os tecidos.

A autorização eletrônica, portanto, surge como uma ferramenta estratégica. “A AEDO é um avanço que mostra como a tecnologia pode estar a serviço da vida”, afirma Carolina Romano, diretora de Tabelionato de Notas do Sinoreg-ES. A validade do documento é imediata. Uma vez assinado, ele integra automaticamente a Central Nacional de Doadores de Órgãos, podendo ser consultado por profissionais de saúde credenciados no Sistema Nacional de Transplantes. É importante destacar que a decisão pode ser revogada a qualquer momento pelo cidadão, diretamente pela plataforma.

Como a doação funciona na prática

Muitas dúvidas cercam o tema. A doação de órgãos só é possível após a confirmação da morte encefálica – um diagnóstico rigoroso e irreversível, feito por uma equipe médica especializada e não envolvida no processo de transplante. A lei brasileira estabelece que a doação depende da autorização da família, mesmo que o falecido tenha manifestado em vida a sua vontade. É aí que a AEDO ganha força: ela serve como um documento formal e inequívoco que a família pode apresentar, aliviando o peso da decisão em um momento tão delicado.

A transparência do sistema é um ponto crucial. A retirada dos órgãos é realizada em centro cirúrgico, como qualquer outra cirurgia de grande porte, e o corpo é devolvido à família sem deformidades aparentes, permitindo um velório normal. Campanhas de esclarecimento constantes são necessárias para derrubar mitos e aumentar a confiança da população.

O Dia Nacional da Doação de Órgãos, em 27 de setembro, reforça essa mobilização. A data vai além da celebração; é um convite à reflexão e à ação. Enquanto milhares aguardam em listas de espera, a tecnologia notarial se apresenta como uma ponte mais ágil entre a intenção do cidadão e a esperança de quem precisa de um transplante para viver.