
Neste Dia Mundial dos Oceanos, líderes e cientistas se reúnem para acelerar a proteção marinha, mas o tempo urge diante de plásticos, pesca excessiva e crise climática.
A vida marinha clama por socorro. No Dia Mundial dos Oceanos, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a comunidade científica emitiram um alerta sombrio: 50% das espécies marinhas podem desaparecer até 2100. A combinação letal de poluição plástica, pesca predatória e aquecimento global empurra os ecossistemas marinhos para um colapso iminente.
Em Nice, França, a 3ª Conferência dos Oceanos da ONU teve início com uma meta ambiciosa: proteger 30% das águas globais até 2030. Embora instrumentos financeiros e avanços científicos sejam apontados como caminhos, a falta de ações concretas e a urgência do cenário preocupam especialistas.
A Crise em Números: Plástico e Clima Afogam a Vida Marinha
A emergência biológica e climática é alarmante. António Guterres, secretário-geral da ONU, ressaltou que mais da metade das espécies marinhas está em risco de extinção até o fim do século. A crescente presença de plástico, por exemplo, sufoca cardumes e desestrutura ecossistemas.
Somado a isso, o aumento das temperaturas e a acidificação dos oceanos elevam o nível do mar, danificando recifes e afetando a vida dos peixes. Os oceanos, vale ressaltar, absorvem cerca de 30% do dióxido de carbono (CO₂) emitido por humanos, desempenhando um papel crucial como sumidouros naturais na luta contra as mudanças climáticas.
A poluição por plástico atingiu proporções assustadoras. Estima-se que entre 19 e 23 milhões de toneladas de plástico sejam despejadas nos mares anualmente, o equivalente a 2.000 caminhões de lixo por dia. Plásticos já foram encontrados em 100% das tartarugas marinhas e em mais de 60% das aves marinhas. Os impactos são variados: sufocamento, ingestão nociva e as temidas “redes fantasmas” que destroem corais e matam indiscriminadamente a vida marinha.
Conferência em Nice: Promessas e Desafios da Proteção Oceânica
A 3ª Conferência da ONU sobre os Oceanos, que acontece de 9 a 13 de junho em Nice, reúne cerca de 10.000 delegados e 70 líderes globais, entre cientistas e representantes governamentais. O encontro é um palco tanto para promessas de cooperação quanto para pressões por resultados.
Um dos pontos centrais da conferência é a ratificação do Tratado de Alto Mar (High Seas Treaty) de 2023, que visa criar áreas protegidas em águas internacionais. Atualmente, apenas entre 22 e 50 países o ratificaram, e são necessárias 60 adesões para sua entrada em vigor. A União Europeia (UE) anunciou um investimento de €1 bilhão em 50 projetos globais, com foco em pesca sustentável e proteção de corais.
Contudo, a realidade da proteção é desanimadora: apenas entre 2,7% e 3% dos oceanos globais estão efetivamente protegidos, um número muito distante da meta de 30% até 2030. Organizações Não Governamentais (ONGs) criticam a existência de “parques de papel”, ou seja, áreas designadas como protegidas, mas sem fiscalização real.
Caminhos para a Solução: Ciência, Economia Azul e Ação Comunitária
A ciência, a economia azul e as comunidades costeiras emergem como pilares essenciais para reverter o cenário. A ONU projeta a criação de até 40 milhões de empregos na economia azul até 2030, o que reforça a íntima ligação entre o desenvolvimento humano e a conservação marinha.
Guterres propôs investimentos substanciais em pesquisa científica, conservação e uma economia sustentável, com atenção especial ao apoio a comunidades costeiras, povos indígenas e pequenos Estados-ilha. Um exemplo prático dessa abordagem vem do Djibouti, que implementa campanhas de limpeza de praias e ações educativas para combater resíduos plásticos.
Desafios contemporâneos, como a mineração submarina, também foram abordados na conferência, com apelos para seu banimento imediato. Os subsídios pesqueiros prejudiciais, que totalizam US$ 20 bilhões anuais, continuam a sobre-explorar os estoques, e os avanços da Organização Mundial do Comércio (OMC) neste tema são limitados.
O Dia Mundial dos Oceanos e a Conferência de Nice representam um momento decisivo. É fundamental reconhecer o oceano como pilar da vida na Terra e transformar as promessas em ações concretas. A sinergia entre políticas globais, ciência e uma economia azul pode reverter o rumo, mas isso dependerá de compromissos firmes, ratificações decisivas e investimentos genuínos.