Ciência Corre Contra o Tempo por Tratamento.
A legalização da maconha em diversos países trouxe à luz uma realidade inegável: a cannabis pode, sim, causar dependência. Longe do mito da substância inofensiva, a maconha afeta atualmente cerca de 3 em cada 10 usuários com o Transtorno por Uso de Cannabis (TUC), segundo dados alarmantes do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. Enquanto milhões lutam contra a incapacidade de parar de usar a droga, a comunidade científica intensifica a busca por terapias eficazes. No entanto, o acesso ao tratamento é limitado, e o estigma social ainda impede que a maioria dos dependentes receba a ajuda necessária.
O cenário de dependência que atinge milhões
O consumo de cannabis atingiu níveis recordes. O Relatório Mundial sobre Drogas de 2024, da ONU, revela que aproximadamente 228 milhões de pessoas usaram a substância em 2022, tornando-a a droga ilegal mais consumida no planeta.
A dependência é uma crise de saúde pública silenciosa. Cerca de 64 milhões de pessoas sofrem de transtornos relacionados ao uso de drogas no mundo, mas a taxa de tratamento é chocante: apenas uma em cada 11 recebe assistência adequada.
Nos Estados Unidos, a situação é crítica. Cerca de 7% da população com 12 anos ou mais apresenta TUC. A legalização, em vez de simplificar o cenário, adicionou complexidade ao problema. Um estudo realizado em Washington mostrou que o uso combinado de cannabis medicinal e recreacional levou a quadros de dependência mais severos do que o uso exclusivamente medicinal.
O que é o TUC e como identificá-lo
O Transtorno por Uso de Cannabis é uma condição psiquiátrica reconhecida que vai além do conceito popular de “vício”. Para receber o diagnóstico, o paciente precisa apresentar pelo menos dois dos 11 critérios definidos pela Associação Americana de Psiquiatria, incluindo perda de controle sobre o consumo, desejos intensos pela droga e problemas sociais ou profissionais causados pelo uso.
A Dra. Anna Das, psiquiatra de Stanford, é categórica: “A concepção errônea sobre a segurança da substância tem se tornado mais difundida à medida que mais estados legalizam a maconha”. Ela alerta que o risco aumenta com a frequência de uso e a potência do produto.
Sintomas de Alerta:
- Ansiedade, insônia e alterações de humor
- Déficits de memória e atenção
- Apatia e negligência de responsabilidades familiares, acadêmicas ou profissionais
Fatores de risco: adolescentes e a maconha superpotente
O Perigo na Adolescência
A adolescência é o período de maior vulnerabilidade. Quem começa a usar cannabis entre 12 e 17 anos tem um risco muito maior de desenvolver dependência. O cérebro em desenvolvimento é extremamente sensível aos efeitos do THC, o composto psicoativo da maconha.
A Maconha Mais Forte
O aumento da potência do THC nos produtos de cannabis é um fator de risco crescente. Pesquisas recentes indicam que o uso de maconha de alta potência pode deixar uma “marca no DNA”, um sinal do impacto biológico da substância no organismo.
Comorbidades Psiquiátricas
O TUC raramente vem sozinho. Ele está frequentemente ligado a outros problemas como ansiedade, depressão e Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). A falta de tratamento adequado para a dependência agrava o quadro, aumentando o risco de déficits cognitivos e até mesmo de comportamento violento.
A esperança da ciência: terapias e um novo medicamento
Apesar da ausência de um medicamento específico aprovado pela FDA, o tratamento atual se baseia em intervenções comportamentais de alta eficácia:
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Ajuda a mudar padrões de pensamento e comportamento que levam ao uso.
Terapia de Intensificação Motivacional: Transforma a dúvida do paciente em motivação para a mudança.
Manejo de Contingências: Usa recompensas para reforçar a abstinência, como prêmios por testes negativos para drogas.
A tecnologia também é uma aliada. Programas como o eCHECKUP e o PNC-txt (aconselhamento via texto) mostram resultados promissores na redução do uso.
O Medicamento que “Tira o Prazer” da Maconha
A maior esperança vem de um novo medicamento experimental: o AEF-0117. Em um ensaio clínico, ele reduziu os “efeitos bons” percebidos da cannabis em até 38%.
O AEF-0117 é o primeiro de uma nova classe que bloqueia seletivamente o receptor CB1 no cérebro, responsável pela euforia. A grande inovação é que ele faz isso sem causar os graves sintomas de abstinência de medicamentos anteriores.
Outras substâncias como a gabapentina e a N-acetilcisteína também estão sendo investigadas como potenciais adjuvantes no tratamento.
O desafio do acesso e o apelo por políticas públicas
O avanço científico esbarra na realidade do acesso. Nos Estados Unidos, a maioria dos dependentes de cannabis não recebe tratamento. O estigma é uma barreira poderosa, fazendo com que muitos só busquem ajuda para outros problemas, escondendo a dificuldade com a maconha.
Especialistas alertam que a legalização não significa segurança. A Dra. Das é direta: “Assim como com o álcool, só porque algo é legal não significa que
