Acesso à educação avança no Brasil, mas atraso escolar e evasão ainda preocupam

Apesar dos avanços no acesso à educação no Brasil em 2024, os dados revelam que milhões de jovens ainda enfrentam barreiras para concluir os estudos. O número de brasileiros que não completaram o ensino médio permanece elevado, e o atraso escolar cresce justamente nas faixas etárias mais críticas, ampliando desigualdades raciais, de gênero e regionais.

A mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua: Educação 2024), divulgada pelo IBGE, mostra que a taxa de escolarização de crianças e jovens melhorou em alguns pontos, mas o país ainda está longe de cumprir metas estabelecidas em leis como o Plano Nacional de Educação (PNE) e a LDB.

Taxas de escolarização melhoram, mas metas continuam distantes

O percentual de crianças de 6 a 14 anos na escola atingiu 99,5% em 2024, praticamente universalizado. Porém, entre os adolescentes de 15 a 17 anos, que deveriam estar no ensino médio, apenas 93,4% estavam frequentando a escola – abaixo da meta legal de 100% para essa faixa.

Além disso, o percentual de crianças frequentando a série adequada à idade caiu de 94,6% para 94,5%, abaixo do que estabelece o PNE. Esses dados mostram que o acesso existe, mas não garante progressão adequada nem qualidade no percurso educacional.

Atraso e abandono escolar afetam milhões

O problema se agrava quando se observa o ensino médio: 8,7 milhões de brasileiros entre 14 e 29 anos não haviam concluído essa etapa em 2024. Embora tenha havido queda em relação a 2023 (quando eram 9,3 milhões), a evasão continua alta, especialmente a partir dos 15 anos.

Aos 18 anos, por exemplo, 20,7% dos jovens já haviam abandonado os estudos, número três vezes maior que entre os 14 anos (6,8%). Isso indica um momento crítico de transição entre os ciclos escolares, quando muitos deixam a escola para trabalhar ou por falta de apoio educacional.

Trabalho, gravidez e falta de interesse entre os principais motivos

Os motivos da evasão escolar refletem desigualdades estruturais: 42% dos jovens que pararam de estudar alegaram necessidade de trabalhar. Entre os homens, esse índice sobe para 53,6%, enquanto entre as mulheres, os fatores mais citados foram gravidez (23,4%) e afazeres domésticos (9%).

A falta de interesse também aparece com destaque entre os jovens, sobretudo meninos, representando 26,9% das justificativas para o abandono.

Desigualdade racial: jovens negros e pardos são os mais afetados

As desigualdades raciais seguem marcando a realidade escolar. Mais de 70% dos jovens negros ou pardos de 14 a 29 anos apresentavam atraso escolar ou não tinham completado o ensino médio, contra 56,2% dos jovens brancos. No ensino superior, apenas 2,9% dos negros ou pardos haviam concluído a graduação, menos da metade da taxa entre brancos (6,2%).

Jovens fora da escola e do mercado de trabalho

Outro dado preocupante: 18,5% dos brasileiros entre 15 e 29 anos não estudavam, não trabalhavam nem estavam em cursos de qualificação – os chamados “nem-nem”. Esse índice é ainda maior entre mulheres (24,7%) e entre pessoas negras ou pardas (21,1%).

Ensino técnico e qualificação crescem, mas seguem limitados

Apesar dos desafios, houve aumento no número de jovens que optam por cursos técnicos ou de qualificação profissional. Em 2024, 9,2% dos alunos do ensino médio estavam matriculados em cursos técnicos ou de magistério – alta de quase 29% desde 2019. Já os cursos de qualificação profissional registraram 569 mil matrículas, crescimento de 8,8%.

Esses números demonstram que há demanda por alternativas que conciliem estudo e inserção no mercado de trabalho. Programas como o Pé-de-Meia, que oferece poupança para estudantes de baixa renda do ensino médio público, e a ampliação de escolas em tempo integral, têm sido apontados como caminhos viáveis para conter a evasão.

Conclusão: avanços ainda tímidos diante de um desafio estrutural

O Brasil encerrou 2024 com sinais positivos na educação: crescimento do número de alfabetizados, expansão de matrículas em cursos técnicos e maior escolaridade média. Contudo, o atraso escolar, o abandono precoce e a desigualdade no acesso à educação de qualidade revelam que o país ainda precisa de políticas mais eficazes, sustentáveis e centradas na equidade.

A permanência e a progressão escolar seguem sendo os maiores desafios da educação brasileira – especialmente entre os mais pobres, negros, meninas e moradores de regiões historicamente desfavorecidas.