Por que alguns lugares do mundo escondem o segredo de viver até os 100 anos? A resposta está no Dia do Idoso

imagem gerada por IA/PicLumen

Todo primeiro de outubro, o mundo inteiro para para celebrar algo que, paradoxalmente, muitos passam a vida inteira tentando evitar: envelhecer. O Dia Internacional do Idoso, instituído pela ONU em 1990, não é apenas uma data simbólica no calendário – é um lembrete de que estamos vivendo a transformação demográfica mais impactante do século XXI.

E os números impressionam. Segundo projeções da Organização das Nações Unidas, a população com 60 anos ou mais deve saltar de 962 milhões em 2017 para impressionantes 2,1 bilhões até 2050. É como se a humanidade estivesse ganhando uma cidade inteira de idosos a cada poucos meses. Ainda mais surpreendente: o número de pessoas com 65 anos ou mais deve dobrar, passando de 761 milhões em 2021 para 1,6 bilhão em 2050.

A América Latina, onde nos inserimos, vive esse processo em velocidade acelerada. A taxa de crescimento da população com mais de 60 anos na região atinge 3,77% entre 2015 e 2020 – maior que a média mundial. No Brasil, o fenômeno é ainda mais intenso: enquanto a população total cresceu 3,3 vezes em 150 anos, nossos idosos se multiplicaram em ritmo muito superior.

Quando a pirâmide vira cilindro

Pense na clássica pirâmide populacional que você viu nos livros de geografia: uma base larga de jovens sustentando um topo estreito de idosos. Essa imagem está virando história. Segundo relatórios da Organização Mundial da Saúde, em aproximadamente três décadas, o número de pessoas idosas será equivalente ao número de crianças no planeta. A pirâmide triangular de 2002 está se transformando em uma estrutura cilíndrica – um fenômeno que especialistas chamam de “agrisalhamento” da população mundial.

É como se o mundo estivesse passando de uma árvore de Natal para um poste de iluminação.

Os mistérios das zonas azuis

Mas enquanto estatísticas falam de envelhecimento, algumas regiões do planeta parecem ter decifrado um código secreto: como não apenas viver muito, mas viver bem. São as chamadas Blue Zones – zonas azuis –, cinco regiões identificadas pelo pesquisador Dan Buettner em colaboração com a National Geographic onde a longevidade não é exceção, é regra.

Imagine lugares onde chegar aos 100 anos é quase banal. A Sardenha, na Itália, abriga a província de Ogliastra, onde uma peculiaridade genética parece colaborar com a longevidade excepcional dos moradores. Okinawa, no Japão, tem a maior concentração de mulheres centenárias do planeta. Já Ikaria, na Grécia, ostenta um título intrigante: a ilha onde as pessoas “esquecem de morrer”.

O que essas regiões têm em comum? Nada de fórmulas mágicas ou fontes da juventude. Os centenários dessas zonas azuis compartilham hábitos surpreendentemente simples: caçam, pescam, colhem a própria comida, mantêm vínculos sociais fortes e cultivam um propósito de vida – o que os japoneses chamam de ikigai.

O paradoxo do envelhecer

Aqui reside o paradoxo fascinante que o Dia do Idoso nos convida a refletir: vivemos em uma era onde a expectativa de vida cresce exponencialmente, mas ainda tratamos o envelhecimento como algo a ser combatido, temido, escondido.

Enquanto a ciência desvenda os segredos biológicos da longevidade – genes, telômeros, processos celulares –, as zonas azuis nos ensinam que o verdadeiro segredo pode estar em coisas tão prosaicas quanto caminhar até a casa do vizinho, cultivar um jardim ou compartilhar uma refeição com a família.

No Brasil, onde celebramos o Dia Nacional do Idoso desde 2006, coincidindo com a promulgação do Estatuto da Pessoa Idosa, o desafio é duplo: não apenas garantir que as pessoas vivam mais, mas assegurar dignidade, direitos e qualidade de vida nessa jornada prolongada.

O futuro que já chegou

As implicações dessa revolução demográfica atravessam todos os setores: do mercado de trabalho à previdência, da arquitetura urbana aos sistemas de saúde, das estruturas familiares às relações intergeracionais. Em 2024, a ONU escolheu como tema para a data “As Pessoas Idosas Impulsionam Ações Locais e Globais: as Nossas Aspirações, o Nosso Bem-Estar e os Nossos Direitos” – um reconhecimento de que os idosos não são apenas beneficiários de cuidados, mas agentes ativos de transformação social.

Talvez o maior aprendizado que as zonas azuis e o Dia do Idoso nos oferecem seja este: envelhecer não é uma derrota biológica, mas uma conquista civilizatória. Cada ruga conta uma história. Cada cabelo branco é uma medalha de sobrevivência. E cada centenário que planta seu jardim em Okinawa ou caminha pelas colinas da Sardenha está nos ensinando que a longevidade não se mede apenas em anos vividos, mas em vida compartilhada, propósito cultivado e comunidade preservada.

Afinal, se vamos viver até os 100, que seja caminhando com as próprias pernas, rindo com os amigos e plantando sementes que outros colherão. Esse é o verdadeiro significado de envelhecer bem – e é exatamente isso que o Dia do Idoso nos convida a celebrar.