
Cuidado! Você pode invadir (sem querer) uma superprodução pro tik tok e acabar com seu sossego pro resto da semana.
Então é isso: você acorda cedo, arrasta o corpo pra academia, paga sua mensalidade religiosamente, veste aquela roupa de treino que já viu dias melhores, e vai lá fazer seu leg press em paz. Você não quer fama. Não quer holofotes. Quer só definir a perna e voltar pra casa assistir série no sofá.
Mas aí, meu amigo, você comete o pecado mortal do século XXI: você aparece no campo de visão de uma influenciadora digital.
Foi exatamente isso que rolou numa academia nos Estados Unidos. A moça estava lá, gravando seu conteúdo – provavelmente algo tipo “5 exercícios que vão EXPLODIR seu glúteo” ou “Como ter bíceps de sonho em 30 dias”. Câmera montada, iluminação perfeita, playlist motivacional no talo.
Eis que surge a vilã da história: uma frequentadora comum. Uma cidadã pagante que teve a audácia, a ousadia, o desplante de… usar um aparelho de musculação. No fundo do vídeo. Numa academia. Que ela paga.
A influenciadora surtou. Mandou a mulher sair de perto porque estava “atrapalhando a gravação”. Como se a academia fosse um set de filmagem fechado. Como se ela tivesse alugado o espaço inteiro. Como se o resto da humanidade fosse figurante não-remunerado do reality show dela.
Gente, vamos combinar: a academia virou uma confusão epistemológica. Ninguém sabe mais qual é a função do lugar. É pra treinar? É pra gravar? É pra postar? É pra colecionar likes enquanto finge que faz exercício?
Porque, sejamos honestos, metade dessa galera passa mais tempo ajustando o ângulo da câmera do que ajustando a carga do aparelho. O treino tem mais cenas que filme do Kubrick. Três séries de rosca direta rendem 47 minutos de gravação, 12 mudanças de luz e um debate interno sobre qual filtro deixa o bíceps mais bombados.
E olha, eu entendo o lado do criador de conteúdo. Ganha a vida assim, precisa de material, quer mostrar trabalho. Tudo bem. Mas existe uma coisa chamada noção. E outra chamada direito de imagem. E uma terceira, quase extinta, chamada educação.
Você não alugou a academia. Você não colocou uma placa de “silêncio, gravando”. Você não pediu autorização pra usar a imagem dos outros. Você simplesmente decidiu que o mundo é seu estúdio e o resto da humanidade que se vire.
O pior é que essa mentalidade está se espalhando. Tem gente que põe o celular no chão pra filmar o agachamento e fica pistola quando alguém passa na frente. Meu querido, ou você isola a área com aquelas fitas amarelas de cena de crime, ou aceita que pessoas vão andar numa academia. É tipo reclamar que tem gente nadando na piscina enquanto você tenta fazer um vídeo artístico de mergulho.
A frequentadora que foi expulsa do próprio treino só queria usar o aparelho e estava alongando. Não pediu pra ser expulsa do enquadramento da vida alheia. Não assinou termo de cessão de imagem. Não recebeu cachê. Ela só queria… sabe… malhar.
Mas não. Ela teve que ouvir um “sai daqui que tá atrapalhando” de alguém que transformou um espaço coletivo em camarim particular.
E sabe o mais engraçado? A galera que faz isso geralmente é a mesma que posta textão sobre “respeito no ambiente de treino” e “etiqueta na academia”. Mas a etiqueta deles consiste em: não atrapalhe minha produção de conteúdo. O resto? Dane-se.
Então fica a dica pra todo mundo que acha que a academia é um cenário alugado: não é. É um lugar compartilhado. Onde pessoas pagam pra treinar. Se você quer gravar, beleza. Mas você não pode impedir os outros de usarem o espaço. Você não é diretora de cinema. Você não é produtora da Netflix. Você é uma pessoa com um celular e uma necessidade crônica de validação digital.
E olha, se você realmente precisa de um cenário exclusivo, sem ninguém atrapalhando sua arte, tenho uma sugestão revolucionária: aluga um estúdio. Ou grava em casa. Ou compra uns halteres e faz seu conteúdo na sala.
Mas deixa a galera treinar em paz.
Porque no fim das contas, meu amigo, a gente não vai pra academia pra aparecer no fundo do seu Reels. A gente vai pra suar, sofrer, e fingir que segunda-feira que vem a gente volta.
E isso, convenhamos, já é trabalhoso o suficiente sem ter que lidar com diretora de TikTok tendo chilique por causa de enquadramento.