
Assembleia Geral volta a reunir líderes mundiais, mas a paralisia do Conselho de Segurança expõe limites da instituição diante de guerras, fome e genocídios
Da promessa de paz à frustração global
Criada em 1945, após a devastação da Segunda Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) nasceu com o objetivo de evitar novas tragédias, garantir segurança coletiva, promover direitos humanos e impulsionar o desenvolvimento. O ideal era simples: uma mesa de negociação mundial capaz de frear guerras antes que se transformassem em catástrofes.
Quase 80 anos depois, porém, a ONU enfrenta um descrédito crescente. Conflitos no Oriente Médio, genocídios na África, fome em larga escala e a incapacidade de deter massacres em Gaza levantam a pergunta inevitável: a ONU ainda serve ao propósito que a originou?
O poder de veto e a paralisia do Conselho de Segurança
O grande entrave da ONU está no Conselho de Segurança, composto por 15 países, sendo cinco permanentes com poder de veto: EUA, Rússia, China, França e Reino Unido. Esse mecanismo, pensado para equilibrar interesses das potências, transformou-se em um bloqueio sistemático a qualquer decisão que desagrade os mais fortes.
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Assim, propostas de cessar-fogo em Gaza, condenações à invasão da Ucrânia ou medidas contra massacres no Sudão são travadas por vetos sucessivos. A imagem que fica é de uma ONU refém dos interesses das grandes potências.
Assembleia Geral: discursos x decisões
A 80ª sessão da Assembleia Geral da ONU (AGNU) será aberta em 9 de setembro de 2025, em Nova Iorque. O Debate Geral de Alto Nível começa em 23 de setembro, reunindo todos os 193 Estados-membros.
Ali, chefes de Estado e de governo discursarão sobre desafios globais — da escalada de conflitos à crise climática e à insegurança alimentar. Porém, diferentemente do Conselho de Segurança, as resoluções da Assembleia não têm caráter obrigatório. Na prática, trata-se de um fórum de projeção política e diplomática, mas sem poder de execução.
Crises humanitárias sem resposta
A ONU mantém agências fundamentais, como o Programa Mundial de Alimentos (PMA), a OMS e o Alto Comissariado para Refugiados (Acnur). São braços essenciais na luta contra a fome, nas campanhas de vacinação e na acolhida de milhões de deslocados.
Entretanto, quando se trata de intervir contra genocídios ou bombardear civis indefesos, a impotência da ONU é flagrante. Em Gaza, a entidade denuncia a catástrofe humanitária, mas não consegue garantir corredores seguros para ajuda, nem impor um cessar-fogo duradouro.
O papel do Brasil
Membro fundador, o Brasil tradicionalmente abre os discursos na Assembleia Geral desde 1947. Ao longo das décadas, desempenhou papéis relevantes em missões de paz e hoje defende a reforma do Conselho de Segurança, pleiteando um assento permanente para países em desenvolvimento.
Ainda assim, o peso do Brasil é limitado pela própria estrutura da ONU. Mesmo com voz ativa em temas como meio ambiente, combate à fome e desigualdade, o país também se vê diante da paralisia global.
A ONU ainda é necessária?
De esperança global, a ONU se tornou um organismo questionado e enfraquecido. A cada genocídio ignorado, a cada veto que bloqueia o cessar-fogo, cresce a percepção de que a instituição perdeu sua função original.
Se nada mudar, especialmente no sistema de vetos, a ONU corre o risco de se tornar um organismo burocrático e irrelevante, reduzido a discursos formais e ações paliativas. A ideia de cooperação multilateral permanece necessária, mas o formato atual mostra sinais claros de esgotamento.