Motos são cada vez mais a alternativa de mobilidade para quem é excluído do transporte — e tornam-se cada vez mais letais

Segundo a Agência Brasil, em 2023, as mortes envolvendo motocicletas corresponderam a cerca de 38,6% dos óbitos no trânsito, apesar de as motos representarem somente 22,5% da frota nacional.
Em termos absolutos, dos quase 3 000 acidentes fatais a mais registrados em 2023 em relação a 2019, cerca de 2 300 foram causados por sinistros com motocicletas.

Perfil da população vulnerável

A população que recorre à moto como alternativa ao transporte coletivo é, frequentemente, de baixa renda, com menor escolaridade e incluída em grupos sociais racializados — jovens predominantemente negros.
Essa população tende a adotar motocicletas por custo-benefício e mobilidade em regiões periféricas ou de difícil acesso por transporte convencional.

Aplicativos e a substituição do transporte coletivo

Com o crescimento dos aplicativos de transporte por motocicleta, muitos motoristas e passageiros passaram a depender das motos como substitutos informais do transporte público.
Reportagens apontam que essa mudança agrava a precariedade: “poucas exigências de segurança pelas plataformas multiplicam o perigo nas ruas” e ocupantes de motos se tornam “as vítimas que mais custam caro à saúde pública”.

Estudos sobre políticas públicas e motofaixas

Uma análise sobre o projeto piloto de motofaixas “Faixa Azul” em São Paulo conclui que ainda não há evidências claras de redução de colisões ou mortes. O estudo, coordenado por entidades como USP, Vital Strategies e Instituto Cordial, ressalta a necessidade de cautela antes de expandir o modelo nacionalmente.

Necessidade de ação estruturada

Especialistas defendem que, sem políticas públicas robustas — regulamentação do transporte por moto, cursos de direção defensiva e primeiros socorros, campanhas educativas e melhorias na infraestrutura — os índices de mortalidade continuarão elevados.

Panorama por estado

No Piauí, onde mais de 50% da frota é composta por motos, os sinistros com esse tipo de veículo representam quase 70% das mortes no trânsito do estado.
Cenários similares ocorrem outras capitais e regiões com alta presença de motos, reforçando o caráter nacional do problema.

O crescimento do uso da motocicleta como única alternativa real para a mobilidade urbana — especialmente entre populações marginalizadas — vem acompanhado de riscos elevados. As mortes proporcionais têm superado a presença desse modal na frota e mostram que a moto se tornou, paradoxalmente, condição de acesso e risco.
Sem políticas públicas eficazes para segurança, regulamentação e inclusão, essa tendência deverá se agravar, aprofundando desigualdades social e de saúde no trânsito.