
Em meio à intensificação das sanções ocidentais e ao prolongamento da guerra na Ucrânia, a Rússia confiscou cerca de US$ 50 bilhões em ativos pertencentes a empresas e indivíduos estrangeiros nos últimos três anos. A informação, publicada pelo jornal russo Kommersant e repercutida pela agência Reuters, evidencia o avanço da chamada “Fortaleza Rússia” — política implementada pelo Kremlin para proteger a economia nacional e retaliar medidas do Ocidente.
Confisco em Resposta a Sanções
Segundo o levantamento do Kommersant, o confisco de ativos estrangeiros na Rússia inclui a apropriação de imóveis, participações acionárias, contas bancárias e bens de empresas e cidadãos de países considerados “hostis” por Moscou. Desde o início da invasão russa à Ucrânia, em fevereiro de 2022, os Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e aliados impuseram uma série de sanções severas à economia russa, incluindo o congelamento de reservas internacionais e o bloqueio de ativos de oligarcas russos no exterior.
Em resposta, o governo russo adotou uma postura de retaliação, ampliando a lista de ativos estrangeiros sob intervenção ou confisco. “A Rússia tem buscado compensar os efeitos das sanções, protegendo sua economia e pressionando empresas ocidentais que anunciaram a saída do país”, destacou a Reuters.
Empresas Multinacionais e Retirada do Mercado Russo
Entre as companhias mais afetadas estão gigantes dos setores de energia, tecnologia e consumo, como BP, Shell, McDonald’s, IKEA e Ford. Muitas delas anunciaram a suspensão de operações ou a venda de ativos desde o início do conflito. Segundo reportagem do The Guardian, a Shell, por exemplo, perdeu controle sobre ativos estimados em US$ 4 bilhões após o governo russo assumir parte das operações de energia no país.
A BBC News também ressalta que a nacionalização de ativos estrangeiros se tornou uma ferramenta de pressão política e econômica. “O Kremlin está claramente enviando uma mensagem: deixar a Rússia pode ter um custo elevado”, afirmou Alexander Gabuev, do Carnegie Russia Eurasia Center, à BBC.
Contexto Histórico e Estratégias do Kremlin
A estratégia de Moscou remonta à lógica da “Fortaleza Rússia”, desenvolvida desde 2014, após a anexação da Crimeia. O objetivo é blindar a economia contra choques externos, diversificar reservas e reduzir a dependência do Ocidente. Segundo a Deutsche Welle, o confisco de ativos também serve como resposta ao congelamento de cerca de US$ 300 bilhões em reservas russas mantidas em bancos estrangeiros desde 2022.
O jornal O Globo destaca que, em abril deste ano, o presidente Vladimir Putin assinou decretos autorizando o confisco de ativos de empresas de países hostis, alegando “necessidade de proteger interesses nacionais”.
Impactos e Desdobramentos
A ofensiva russa sobre ativos estrangeiros aprofunda a crise de confiança entre Moscou e o Ocidente, tornando improvável uma normalização das relações econômicas no curto prazo. Especialistas consultados pela CNN apontam que a medida pode desencorajar investimentos internacionais na Rússia por anos, além de gerar disputas judiciais em tribunais internacionais.
“Esse movimento não apenas prejudica as empresas afetadas, mas também sinaliza um ambiente de negócios ainda mais imprevisível na Rússia”, afirmou à France 24 a analista Ekaterina Schulmann.
Próximos Passos e Implicações
Com a guerra na Ucrânia sem previsão de término e as medidas de confisco em curso, o cenário econômico russo deve permanecer isolado e dependente de parceiros não-ocidentais, como China, Índia e países do Oriente Médio. O tema tende a ganhar novos capítulos, sobretudo diante da discussão, na União Europeia e no G7, sobre o uso dos ativos russos congelados para reconstrução da Ucrânia.
Analistas apontam que a escalada de retaliações pode endurecer ainda mais o ambiente internacional. “Estamos diante de uma verdadeira guerra econômica, cujos efeitos podem perdurar por décadas”, conclui Gabuev ao The Guardian.