BRICS 2025: entre ambições multipolares e tensões internas

Foto: Ana Carolina Fernandes/ Nações Unidas/

A cúpula do BRICS realizada no Rio de Janeiro reuniu 11 países e reacendeu o debate sobre o papel do bloco na reorganização da ordem mundial. Com a participação virtual do presidente russo Vladimir Putin e a ausência presencial de Xi Jinping, o encontro ficou marcado por discursos firmes em defesa do multilateralismo, da reforma das instituições globais e do financiamento climático. Ao mesmo tempo, escancarou tensões internas e os desafios de uma coalizão que busca mais protagonismo, mas ainda carece de coesão política.

O grupo, originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, agora inclui também Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Indonésia, após a expansão iniciada em 2024. Essa nova configuração representa aproximadamente 40% da população mundial e quase metade do PIB global, o que dá peso econômico e político às propostas do bloco.

Durante a reunião, os líderes divulgaram uma declaração conjunta de 31 páginas, na qual condenam medidas unilaterais, como tarifas e sanções econômicas, pedem a reforma do Conselho de Segurança da ONU, do FMI e do Banco Mundial, e defendem o fortalecimento de uma ordem internacional mais equilibrada.

Entre os temas centrais, o meio ambiente ganhou destaque. O presidente Lula propôs a criação do “Tropical Forests Forever Facility”, uma iniciativa voltada à proteção das florestas tropicais com financiamento dos países ricos. Os membros do BRICS cobraram das nações desenvolvidas o cumprimento de suas promessas de repasses financeiros para a transição climática global, especialmente diante da iminente COP 30, que será realizada em Belém (PA), em novembro.

Apesar dos discursos afinados, os compromissos práticos esbarram em contradições. A dependência de combustíveis fósseis ainda é forte entre os membros do grupo, sobretudo em países como Índia, China e Rússia. Embora haja menções ao uso de tecnologias limpas e cooperação em ciência climática, a agenda ambiental ainda sofre com a relutância em abandonar matrizes energéticas poluentes.

No campo econômico, o BRICS reiterou o desejo de reduzir a dependência do dólar americano. Está em estudo o uso ampliado de moedas locais nas trocas comerciais entre os países-membros, com destaque para o avanço do projeto “BRICS Pay”. O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), comandado pela ex-presidente Dilma Rousseff, foi citado como peça-chave para financiar projetos de infraestrutura e combate às desigualdades nos países do Sul Global.

O cenário internacional, porém, tem dificultado os planos do bloco. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump voltou a atacar o BRICS e ameaçou impor uma tarifa de 10% sobre produtos vindos de países que participam ou apoiam o grupo. A retórica nacionalista de Trump reforça as divisões geopolíticas e coloca em xeque a estabilidade econômica global.

Outro ponto sensível da cúpula foi a governança interna. Com regimes tão diversos entre si — de democracias como o Brasil e a África do Sul a autocracias como Irã, Rússia e Arábia Saudita —, o BRICS enfrenta dificuldades para alcançar consensos sólidos. A ausência física dos líderes das duas maiores potências do bloco, China e Rússia, enfraqueceu a imagem de coesão e alimentou especulações sobre o real engajamento de seus membros com a agenda comum.

Ainda assim, o encontro sinalizou que o BRICS permanece como um fórum relevante. O bloco busca ser a voz de uma nova geopolítica, mais alinhada aos anseios do Sul Global, especialmente em temas como segurança alimentar, saúde pública, inteligência artificial, transição energética e reforma multilateral.

Analistas internacionais apontam que o sucesso futuro do BRICS dependerá menos da retórica e mais da sua capacidade de implementar mecanismos de cooperação concretos, em áreas como infraestrutura sustentável, educação climática e inclusão digital. Para isso, será essencial superar as divisões internas e estabelecer uma agenda mínima que una os interesses tão distintos de seus membros.

A próxima grande vitrine será a COP 30, quando o Brasil terá a oportunidade de mostrar, na prática, se consegue liderar uma nova diplomacia climática com respaldo do BRICS. Até lá, o bloco continuará sendo um ator-chave na disputa por uma governança global mais representativa — ainda que cercado por incertezas.

Um pouco de história

O BRICS, iniciado em 2009 pelos países emergentes — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — evoluiu significativamente. No encontro de 2024, em Kazan, foi oficialmente ampliado, incorporando Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes, Arábia Saudita e Indonésia, formando um grupo plural, diverso em sistemas políticos, tamanhos de mercado e níveis de desenvolvimento.

Desde então, pretende-se promover uma ordem internacional mais representativa, questionar a hegemonia do dólar e reformar organismos multilaterais como ONU, FMI e Banco Mundial .