Calor extremo aquece rios e paralisa reatores nucleares na Europa

Imagem de jplenio1 no Freepik

Uma intensa onda de calor que atinge a Europa está obrigando operadores de usinas nucleares na França e na Suíça a operarem com capacidade reduzida ou mesmo suspenderem a geração elétrica. A causa: o aquecimento excessivo das águas dos rios utilizados para refrigeração, que pode comprometer sistemas vitais e o equilíbrio ambiental dos ecossistemas fluviais.

Suíça: Beznau segue parcialmente offline

Na Suíça, o reator 1 da usina de Beznau foi completamente desativado em 1º de julho, enquanto o reator 2 opera com apenas 50% da capacidade. A decisão foi tomada após a temperatura da água do rio Aare ultrapassar 25 °C, valor limite regulatório para evitar impactos à fauna e flora locais.

Block 1, em operação desde 1969, é considerado o reator comercial mais antigo do mundo; as medidas foram adotadas conforme orientação do Escritório Federal de Energia suíço e a pedido do operador Axpo.

França: Golfech e Blayais reduzem produção

Na França, a EDF desligou o reator de Golfech e reduziu a produção em Blayais para proteger a Garonne e a Gironde, cujas águas já atingiam até 28 °C.

Embora representem cerca de 65% da matriz energética francesa, essas usinas precisam reduzir a produção durante o verão para evitar o aquecimento excessivo dos corpos d’água — prática que acarreta apenas 0,3% de perda na geração anual .

Contexto europeu: situação de 2025 aumenta vulnerabilidade da energia nuclear

A restrição das usinas nucleares durante ondas de calor não é inédita. Eventos similares ocorreram em 2003, quando o reator de Fessenheim foi suspenso por falta de refrigeração adequada . Com o avanço das mudanças climáticas, esses episódios tendem a se repetir, pressionando o sistema elétrico europeu.

Consequências econômicas e ambientais

A redução da oferta de energia nuclear eleva o preço da eletricidade em países vizinhos. Na Alemanha, por exemplo, tem-se observado alta nos custos em função da dependência de energia hidráulica ou importações alternadas .

Do ponto de vista ambiental, a liberação de água quente pode desequilibrar os ecossistemas aquáticos, afetando desde peixes até microrganismos. Técnicos alertam para os riscos de operação com refrigeração deficiente, que reduz eficiência e pode comprometer a segurança dos reatores .

Especialistas alertam para desafios futuros

Especialistas internacionais, como o IPCC, destacam que a frequência e intensidade de ondas de calor estão aumentando devido ao aquecimento global. Isso impõe nova urgência à adaptação da infraestrutura energética, especialmente termelétrica e nuclear .

Gestores e governos avaliam alternativas como modernização dos sistemas de resfriamento, uso de fontes mais resilientes e maior diversificação da matriz energética, incluindo renováveis que não dependem de água fria.

O que vem a seguir?

  • Monitoramento contínuo: autoridades francesas e suíças já informaram que novos desligamentos ou reduções podem ocorrer se as temperaturas dos rios permanecerem altas .
  • Revisão normativa: a Suíça discute flexibilizar limites, permitindo descargas a temperaturas até 33 °C se índices ecológicos permitirem .
  • Transição verde: aposta-se na expansão de renováveis (solar, eólica, bombeamento) para reduzir vulnerabilidades, alinhada a compromissos climáticos.

Calor intenso

A Europa enfrenta uma intensa onda de calor que já superou 40 °C em diversos países, disparando alertas vermelhos, registrando mortes, incêndios, falhas em infraestrutura e aumentado a pressão sobre sistemas energéticos e sanitários.

Temperaturas recorde e países mais atingidos

  • Espanha e Portugal: atingidas por dias com mais de 46 °C em junho/julho.
  • Alemanha: registrou picos de até 40 °C.
  • Reino Unido: registrou até 33,6 °C, recorde para junho.
  • Itália e França: calor severo também atingiu 36–39 °C, com alertas em dezenas de cidades.

Algumas regiões da Escandinávia e Ártico também ultrapassaram 30 °C, valores jamais registrados antes .

Impactos à população

  • Mortes e hospitalizações: pelo menos 8 mortes confirmadas (Espanha, França, Itália) . Vulneráveis – idosos, crianças, gestantes – têm sido duramente afetados.
  • Doenças relacionadas ao calor: exaustão, insolação, agravamento de doenças crônicas, infartos e AVCs.
  • Saúde mental: irritabilidade, estresse e quadros de ansiedade crescentes .

Para ajudar, diversos países ativaram planos de emergência, ofereceram “climate oases” e fecharam escolas e monumentos como Torre Eiffel e Atomium.

Colapso de infraestrutura e efeitos econômicos

  • Energia: queda no rendimento de usinas nucleares por falta de resfriamento adequado e perda de até 0,5 p.p. no PIB europeu.
  • Transporte: ferrovias deformando, rodovias rachando, apagões potenciais por sobrecarga .
  • Agricultura e turismo: queda de 30% na produção de azeitona na Espanha, 18% na safra de uva na França. Turistas estão evitando o calor extremo.
  • Seguro e infraestrutura urbana: centros de dados e baterias com risco, aumento de custos e perdas econômicas .

Crises ambientais e riscos à saúde pública

  • Incêndios florestais: queimadas na Catalunha (6.500 ha), Turquia evacuou 50 mil pessoas em Izmir.
  • Escassez de água e ecossistemas: rios com temperaturas até 28 °C, causando suspensão de reatores nucleares .
  • Poluição do ar: aumento de ozônio e partículas lotando hospitais .
  • Impacto infantil: crianças vulneráveis a deficiências respiratórias e efeitos do estresse térmico .

Riscos à saúde e alertas científicos

A OMS europeia destaca que o calor é a principal causa climática de mortalidade, com aumento de 30% nas mortes relacionadas ao calor na última década.

Análise e próximos passos

A crise climático‑saúde exige medidas urgentes. Já se fala em:

  • Fortalecer sistemas de alerta precoce e adaptação urbana;
  • Planejar infraestrutura mais resiliente: resfriamento, espaços públicos, corredores verdes;
  • Revisar regulações para refrigeração de usinas e flexibilização de limites ambientais;
  • Reduzir emissões – UE projeta redução de 90% até 2040, mas enfrenta críticas por uso de compensações;
  • Investir em campanhas públicas: hidratação, evitar exposição direta, checar grupos vulneráveis (#KeepCool da OMS).

Conclusão

A onda de calor revela vulnerabilidades em cadeia — do sistema energético ao transporte, da saúde ao meio ambiente. As altas temperaturas já não são pontuais, mas parte de uma nova realidade climática. Políticas práticas e transformações profundas são urgentes para proteger vidas e garantir resiliência europeia.