Chuvas extremas triplicam e escancaram a vulnerabilidade urbana no Brasil

Relatório aponta aumento de desastres e cobra medidas urgentes de prevenção e adaptação climática.

Os desastres provocados por chuvas intensas mais do que triplicaram no Brasil nos últimos anos, de acordo com dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD) e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Entre os principais eventos estão alagamentos, inundações, enxurradas e deslizamentos de terra.

Além do aumento na frequência, os impactos também se tornaram mais severos. Somente em 2024, as chuvas deixaram 183 mortos no Rio Grande do Sul e 23 no Rio de Janeiro. No mesmo ano, o país registrou mais de mil desastres naturais e cerca de 74 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas.

Entre 2014 e 2023, os prejuízos financeiros com desastres relacionados à água chegaram a R$ 149 bilhões, segundo o Atlas Digital de Desastres. Trata-se de um aumento de 41% em relação à década anterior. Em comparação, o investimento federal em prevenção e contenção de riscos foi três vezes menor no mesmo período.

Atualmente, cerca de 2.600 municípios brasileiros estão classificados como de risco alto ou muito alto para eventos extremos, como inundações e secas prolongadas. A maior parte dessas cidades não possui sistemas de alerta eficientes nem planos locais de adaptação às mudanças climáticas.

Fatores climáticos e humanos

O aumento da temperatura global, impulsionado por fenômenos como o El Niño e a Zona de Convergência do Atlântico Sul, tem contribuído para a concentração de chuvas em curtos períodos. Especialistas indicam que eventos extremos como os registrados recentemente podem se tornar até dez vezes mais frequentes.

Entretanto, os fatores climáticos não explicam sozinhos a tragédia. A urbanização desordenada e a ocupação de áreas de risco – como encostas e margens de rios – ampliam os danos. Sem infraestrutura adequada de drenagem e com saneamento precário, muitas cidades não conseguem absorver volumes de água cada vez mais imprevisíveis.

Casos recentes

Em janeiro de 2025, o Vale do Aço, em Minas Gerais, foi atingido por chuvas que causaram deslizamentos de terra e alagamentos em vários municípios. Ao menos dez pessoas morreram, e cerca de 85 mil foram afetadas. No Agreste de Pernambuco, cidades como Garanhuns também enfrentaram alagamentos e quedas de barreiras.

Relatórios técnicos e especialistas apontam que medidas estruturais e de planejamento poderiam ter evitado parte dos danos. A falta de manutenção em canais de drenagem, ausência de contenção de encostas e falhas nos sistemas de alerta são citadas com frequência.

Caminhos para a prevenção

A principal crítica feita por pesquisadores é a concentração de recursos em ações emergenciais. Segundo o Cemaden, investir em prevenção – como contenção de encostas, replantio de matas ciliares e limpeza de rios – tem custo menor e impacto duradouro.

Projetos como o AdaptaCidades, desenvolvidos em parceria com estados e municípios, buscam implementar planos de adaptação urbana até 2027. No entanto, a adesão ainda é limitada, e a execução depende de planejamento local e continuidade administrativa.

A defesa civil nacional também recomenda a ampliação de sistemas de monitoramento, reassentamento de comunidades em áreas de risco e criação de políticas integradas entre meio ambiente, habitação e infraestrutura.

Sem mudanças estruturais, o país seguirá vulnerável à repetição de tragédias cada vez mais frequentes.