
Com o país ameaçado pelo avanço do mar, mais de 3 mil habitantes já se inscreveram no programa que permite migração permanente ao território australiano.
Mais de um terço da população de Tuvalu, pequeno país insular do Pacífico, busca um futuro fora de casa. Diante da elevação do nível do mar, mais de 3 mil tuvaluanos se inscreveram no programa de vistos climáticos oferecido pela Austrália. O tratado bilateral, chamado Falepili Union, oferece 280 vagas anuais para residência, trabalho e estudo. O acordo, inédito no mundo, une diplomacia, segurança e mobilidade humana frente à crise ambiental. A iniciativa, porém, também levanta preocupações sobre o futuro da soberania e da cultura tuvaluana.
Mais de 3 mil buscam sair de Tuvalu
Tuvalu, arquipélago localizado no Pacífico Sul com cerca de 11 mil habitantes, sofre com os efeitos acelerados da mudança climática. O nível do mar na região já subiu 15 centímetros nas últimas três décadas — uma média 50% superior à do restante do planeta. A capital, Funafuti, corre risco de ter metade de sua área submersa durante as marés altas até 2050.
Diante da ameaça, cresce a adesão ao acordo assinado entre Tuvalu e Austrália no fim de 2023. O tratado prevê a concessão de 280 vistos por ano a tuvaluanos que queiram viver, trabalhar e estudar em solo australiano. O primeiro processo seletivo, via sorteio, já recebeu mais de 1.100 inscrições, que, somadas aos membros das famílias, representam cerca de 4 mil pessoas — mais de 36% da população do país.
Tratado climático é visto como pioneiro
O acordo Falepili Union tem sido visto por especialistas como um marco nas relações internacionais e na política climática. Ao contrário de políticas que tratam migrações climáticas como deslocamentos forçados ou emergenciais, o pacto entre Tuvalu e Austrália é baseado em planejamento e dignidade. Além da migração gradual, o tratado também inclui apoio militar e cooperação em áreas como saúde, infraestrutura e resposta a desastres.
“O Falepili Union oferece um modelo para o mundo sobre como lidar com os impactos humanos da crise climática de forma ética e estratégica”, declarou uma pesquisadora da Universidade Nacional da Austrália ao jornal The Guardian.
Preocupações com cultura e soberania
Ainda assim, nem todos estão confortáveis com o processo. Líderes comunitários e acadêmicos têm manifestado receios sobre a chamada “fuga de cérebros”, já que muitos dos inscritos são jovens ou profissionais qualificados. O temor é que, à medida que essas pessoas deixem o país, enfraqueça-se a economia local e a manutenção das tradições culturais.
Outro ponto em debate é a preservação da soberania nacional, especialmente se partes significativas do território se tornarem inabitáveis ou desaparecerem sob as águas. Em resposta, o tratado também garante que a Austrália respeite as fronteiras marítimas e a identidade estatal de Tuvalu, mesmo em caso de submersão.
Nova etapa em julho
O sorteio para os primeiros 280 vistos está previsto para ocorrer após o encerramento do período de inscrições, no dia 18 de julho. A partir daí, espera-se que as primeiras famílias comecem o processo de realocação para a Austrália.
Com olhos voltados para o futuro, Tuvalu ensaia um equilíbrio delicado: garantir dignidade à sua população migrante sem abrir mão do direito de existir como nação. O mundo observa com atenção este pequeno país que, mesmo à beira do desaparecimento físico, tenta manter viva sua soberania e sua cultura.