
No interior do Espírito Santo, a colheita de café vem provocando uma revolução silenciosa no campo. Em Laranja da Terra, o agricultor Adelson Rossmann surpreendeu ao anunciar que irá pagar até R$ 12 mil por mês a cada um dos colhedores contratados para a safra atual de café conilon. Com produtividade acima da média, sua lavoura deve render cerca de 300 sacas nesta temporada — volume superior ao registrado no ano passado.
A alta na remuneração, no entanto, não é um caso isolado. Segundo o secretário de Agricultura do Espírito Santo, Enio Bergoli, é comum ver trabalhadores recebendo entre R$ 7 mil e R$ 8 mil mensais em diversas regiões produtoras. Já o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (FAES), Júlio Rocha, afirma que há casos em que o ganho diário chega a R$ 1 000. Essa realidade vem mudando o perfil da força de trabalho no campo e atraindo até mesmo profissionais da cidade que decidem trocar a rotina urbana por uma temporada na roça.
Em Linhares, por exemplo, o colhedor João da Silva revelou que faturou R$ 7 mil no último mês, com jornadas de trabalho iniciando ainda antes do nascer do sol. De acordo com dados do Incaper, um bom colhedor consegue reunir cerca de 15 sacas de café por dia. Cada saca colhida é remunerada em média a R$ 40, o que tem gerado um efeito dominó de valorização da mão de obra rural.
O cenário é impulsionado pela valorização do grão no mercado. Atualmente, a saca de café arábica ultrapassa R$ 1.900, enquanto o conilon é vendido por mais de R$ 1.600. Além disso, o Espírito Santo segue como protagonista no cenário nacional do setor, com a maior área plantada de café conilon no Brasil — cerca de 286,7 mil hectares. Ao todo, o estado deve colher aproximadamente 16,4 milhões de sacas nesta safra, somando arábica e conilon, o que representa um crescimento de mais de 18% em relação ao ano anterior.
Esse boom econômico no campo tem gerado um fenômeno curioso: o “êxodo urbano reverso”. Muitos trabalhadores com empregos formais em setores como comércio e serviços têm pedido demissão, tirado férias ou afastamentos para atuar na colheita e aumentar sua renda. A situação, no entanto, acendeu um alerta entre beneficiários de programas sociais, como o Bolsa Família, que temiam perder o auxílio ao assinar carteira temporária.
Diante disso, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que permite ao trabalhador rural temporário manter benefícios sociais mesmo com registro formal durante o período de safra. O texto agora aguarda análise do Senado. Além disso, o Ministério do Trabalho firmou acordos com entidades como a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e o Conselho Nacional do Café (CNC) para garantir os direitos dos trabalhadores e dar segurança jurídica aos empregadores.
O avanço tecnológico também está presente nas lavouras. A mecanização cresce a cada ano, com colheitadeiras modernas e medidas de segurança, como botões de pânico acoplados aos equipamentos. Mesmo assim, o Ministério Público do Trabalho (MPT) reforça a importância da capacitação e da prevenção de acidentes, que ainda ocorrem em operações com máquinas agrícolas.
Em um momento em que o agronegócio capixaba vive seu auge, os desafios são manter a produtividade, assegurar condições dignas de trabalho e encontrar equilíbrio entre o crescimento econômico e a sustentabilidade do setor. O café, mais uma vez, se firma como motor de oportunidades — para quem planta, para quem colhe e para quem vê no campo uma chance de recomeço.