
Data criada em 1948 por agência publicitária para impulsionar vendas de junho se tornou uma das principais datas comerciais do país.
O que hoje conhecemos como Dia dos Namorados começou não como uma antiga tradição romântica, mas como uma jogada de marketing. Em 1948, quando a agência Standart Propaganda criou o slogan “Não é só com beijos que se prova o amor” para a loja Clipper, ninguém imaginava que aquela campanha daria origem a uma das datas mais importantes do calendário comercial brasileiro.
Sete décadas depois, o 12 de junho movimenta R$ 22,1 bilhões na economia nacional e se consolidou como a terceira maior data comercial do país, atrás apenas do Natal e do Dia das Mães.
O nascimento de uma tradição
A história começou com um problema comercial. Junho era historicamente um mês fraco para o varejo – após o Carnaval e o Dia das Mães, as vendas despencavam até agosto, quando chegava o Dia dos Pais. Foi então que João Agripino da Costa Doria Neto, da agência Standart Propaganda, teve a ideia que mudaria o cenário.
A data escolhida não foi aleatória. O 12 de junho foi estrategicamente posicionado na véspera do Dia de Santo Antônio, tradicionalmente conhecido como santo casamenteiro. A fusão entre o apelo comercial e o simbolismo religioso criou uma combinação irresistível para o público brasileiro.
O sucesso foi imediato. Já em 1949, outras regiões do país adotaram a iniciativa. Ironicamente, embora a loja Clipper tenha falido nos anos 1970, a tradição que ela ajudou a criar continuou prosperando.
Números que impressionam
Em 2025, as projeções para o Dia dos Namorados são otimistas. O e-commerce deve faturar R$ 9,23 bilhões, um crescimento de 14% em relação ao ano anterior, com ticket médio de R$ 550,45. O varejo físico, por sua vez, espera movimentar R$ 2,75 bilhões, alta de 3,2%.
Os dados revelam um comportamento de consumo bem definido: 80,7% dos brasileiros pretendem comprar presentes, sendo que 21,2% planejam gastar mais que no ano passado. A média de gastos por pessoa gira em torno de R$ 200 a R$ 238.
“O Dia dos Namorados se tornou uma data democrática, que vai além dos casais tradicionais”, explica um especialista em comportamento do consumidor. De fato, a celebração se expandiu para incluir amigos, familiares e até o conceito de autoamor.
O perfil do consumidor moderno
A pesquisa de comportamento revela características interessantes do consumidor brasileiro nesta data. Cerca de 57% ainda preferem comprar em lojas físicas, enquanto 36% optam pelo online. O PIX se tornou a forma de pagamento preferida, seguido pelo cartão de crédito parcelado.
O planejamento também é uma marca registrada: 66% dos consumidores fazem suas compras com 15 a 30 dias de antecedência, e 76% pesquisam preços online antes de decidir. Um dado que chama atenção: 31% compram presentes mesmo estando com contas em atraso, demonstrando a importância emocional da data.
Setores em destaque
O vestuário lidera as preferências, representando cerca de 40% do faturamento total da data. Perfumes e cosméticos vêm em segundo lugar, com 34% a 39% da preferência dos consumidores, seguidos por calçados (20% a 24%).
No varejo físico, os eletroeletrônicos devem movimentar R$ 806 milhões, enquanto a perfumaria alcança R$ 318 milhões. Um setor que tem ganhado força são as experiências: viagens, jantares românticos, spas e pacotes especiais registram crescimento ano após ano.
Adaptação cultural brasileira
Diferentemente do Dia de São Valentim, celebrado em 14 de fevereiro no hemisfério norte, o Brasil criou sua própria versão adaptada ao clima e cultura locais. A data em junho permite que os casais aproveitem temperaturas mais amenas e se desconecte da proximidade com o Carnaval.
“O 12 de junho se tornou genuinamente brasileiro”, afirma um sociólogo especialista em comportamento cultural. “É uma data que reflete nossa capacidade de adaptação e criação de tradições próprias.”
Estratégias para o futuro
Para 2025, as empresas apostam em estratégias que vão além do tradicional. Marketing inclusivo, que representa diversos tipos de relacionamento, logística reforçada para o e-commerce e experiências omnicanal são as principais tendências.
O setor também investe em sustentabilidade e propósito, com campanhas que valorizam o “amor sem rótulos” e a diversidade de relacionamentos. A personalização de produtos e serviços também ganha espaço, especialmente no ambiente digital.
Reflexões sobre o consumo afetivo
Apesar do forte apelo comercial, psicólogos e sociólogos reconhecem aspectos positivos na data. Em uma sociedade acelerada, o Dia dos Namorados oferece uma pausa para valorizar relacionamentos e expressar afeto.
“A data evoluiu para algo maior que sua origem comercial”, observa uma psicóloga especialista em relacionamentos. “Hoje ela representa um momento de reflexão sobre nossos vínculos afetivos, sejam eles românticos, familiares ou de amizade.”
Tradição consolidada
O que começou como uma estratégia publicitária em 1948 se transformou em uma tradição cultural sólida. O Dia dos Namorados brasileiro prova que, quando estratégia comercial, simbolismo cultural e necessidades emocionais se alinham, nasce algo genuinamente nacional.
Com R$ 22,1 bilhões movimentados anualmente e milhões de brasileiros participando da celebração, a data criada por uma agência de publicidade se tornou uma das mais importantes manifestações do calendário afetivo nacional – confirmando que, no Brasil, celebrar o amor é bom para o coração e para a economia.