Chimpanzés selvagens são flagrados compartilhando frutas “alcoólicas” na África

Imagem de Michael Gottwald por Pixabay

Cena inusitada foi registrada por cientistas em Guiné: primatas dividem frutas fermentadas entre goles e expressões eufóricas — comportamento pode lançar nova luz sobre as origens do consumo de álcool.

Em meio às florestas tropicais da Guiné, na África Ocidental, um grupo de chimpanzés surpreendeu pesquisadores ao protagonizar uma cena digna de happy hour: eles foram flagrados compartilhando frutas naturalmente fermentadas, ricas em etanol, e demonstrando comportamentos eufóricos logo após o consumo. O registro foi feito por uma equipe internacional de primatologistas que estuda o comportamento desses animais há anos — e o achado vai muito além de uma simples anedota curiosa.

“Cheers” entre galhos: o que os cientistas viram

O flagrante aconteceu em Bossou, uma região conhecida por sua população semi-habituada de chimpanzés. Segundo os pesquisadores, liderados pelo primatólogo Dr. Kim Hockings, da Universidade de Exeter, os animais consumiram o líquido fermentado presente nos frutos da palmeira raphia. O teor alcoólico? Pode chegar a 3%, o equivalente a uma cervejinha leve.

Mas o que chamou mais atenção foi o comportamento social em torno da fruta: os chimpanzés passaram a dividir o “coquetel” entre si, oferecendo a bebida de forma colaborativa e até disputando goles com certa pressa — um comportamento raríssimo na natureza e que, segundo os cientistas, remete a hábitos sociais humanos ligados ao álcool.

A origem da “hipótese do macaco bêbado”

O estudo se conecta com uma teoria proposta em 2000 pelo biólogo Robert Dudley, da Universidade da Califórnia, chamada “hipótese do macaco bêbado”. A ideia é simples e provocadora: nossos ancestrais teriam desenvolvido uma atração pelo cheiro e sabor de frutas fermentadas porque isso indicava alimentos ricos em calorias — um diferencial crucial para a sobrevivência.

“O fato de vermos chimpanzés consumindo regularmente essas frutas fermentadas nos dá um vislumbre possível sobre os primeiros passos da relação entre primatas e o etanol”, explicou Hockings à BBC. Segundo ele, a frequência e a naturalidade com que os chimpanzés ingerem o líquido reforçam a hipótese de que o consumo de álcool tem raízes muito mais profundas — literalmente evolutivas — do que imaginávamos.

Emoção, expressões e até ressacas?

A cena descrita pelos cientistas também é rica em detalhes sensoriais. Há relatos de chimpanzés que, após beberem, vocalizavam com mais intensidade, abraçavam-se, balançavam-se com mais vigor pelos galhos — e depois deitavam-se sob a sombra para descansar. Embora os pesquisadores evitem atribuir termos humanos como “embriaguez”, não é difícil imaginar um paralelo com o comportamento de humanos após uma social regada a álcool.

“Não estamos dizendo que eles estão ficando bêbados como numa festa universitária, mas há sim sinais de leve intoxicação e, mais interessante ainda, um componente social envolvido”, pontuou Hockings.

E o que isso diz sobre nós?

Essa história, que parece saída de um conto de Rudyard Kipling em versão etílica, na verdade lança uma luz poderosa sobre a origem do comportamento humano. A busca por prazer, a partilha de recursos e até o consumo de substâncias fermentadas podem ter raízes bem mais antigas — e peludas — do que suspeitávamos.

É possível que o hábito humano de brindar tenha sido herdado, em parte, desse instinto ancestral por alimentos com cheiro forte, sabor intenso e efeito relaxante. Em outras palavras, talvez o happy hour esteja impresso no nosso DNA.

Reflexão final: do galho ao bar

Em tempos de consumo consciente e reflexões sobre os limites do álcool na sociedade, histórias como a dos chimpanzés de Bossou nos convidam a repensar: o ato de beber, quando visto sob a lente da evolução, deixa de ser apenas um hábito social e passa a ser também um capítulo da nossa biologia.

Um brinde à natureza selvagem

E se a próxima vez que você erguer um copo for também um brinde ao elo invisível entre você e os ancestrais de galho em galho? Que seja com moderação — e um toque de reverência à natureza.