Fumaça que une: o sabor e a tradição do Dia do Churrasco no Brasil

Foto de Gonzalo Guzman: https://www.pexels.com/pt-br/

Mais que carne no fogo: como o churrasco se tornou símbolo de união, celebração e identidade cultural no país.

Churrasqueiras acesas, gargalhadas soltas, pratos cheios de história. No Brasil, o Dia do Churrasco — celebrado em 24 de abril — é mais que uma data gastronômica: é um ritual social que atravessa gerações, paladares e sotaques.

Criado para homenagear uma das paixões nacionais, o Dia do Churrasco carrega o calor das relações familiares, o sabor da convivência e até disputas amigáveis sobre o melhor corte ou tempero. Entre carvão, lenha e espeto, o que está em jogo é muito mais do que carne: é a memória afetiva coletiva de um povo.

O Fogo da Tradição: Como nasceu o Dia do Churrasco?

Foi em 2003, por meio de uma lei estadual no Rio Grande do Sul, que o 24 de abril ganhou o título oficial de Dia do Churrasco. A escolha não foi por acaso: é também o dia de nascimento de Chico Mendes, símbolo da luta ambiental e figura carismática da cultura popular, e coincide com o mês em que as temperaturas começam a cair, tornando o fogo da churrasqueira ainda mais convidativo.

Com o tempo, a data extrapolou os pampas e se espalhou pelo país. Afinal, quem resiste ao cheiro de picanha no ar?

Entre Brasas e Risos: A alma brasileira em volta da churrasqueira

Em São Paulo, seu Antônio, de 63 anos, mantém uma tradição que começou com o pai: “Todo 24 de abril tem carne na grelha e cerveja gelada. Meus netos já sabem: é dia de ficar junto, ouvir modão e contar as mesmas histórias de sempre — cada vez mais exageradas, claro.”

A cena se repete em variações deliciosas: no quintal da casa, na laje, no sítio ou até na varanda do apartamento. Seja com carvão, lenha ou elétrica, a churrasqueira virou um altar da convivência brasileira.

O dono da churrasqueira: o herói (ou vilão) do churrasco brasileiro

Todo churrasco tem um. Às vezes é o tio. Às vezes é o vizinho. Pode ser até a avó aposentada do quartel. O importante é que alguém assume o posto de Mestre da Grelha — com autoridade autoimposta, claro.

Esse personagem é quase mitológico. Ele gira o espeto com pompa, dá tapinhas na carne como quem testa melancia, e fala frases como:
“Aqui, quem manda sou eu.”
“Virar carne demais estraga o sabor.”
“Essa picanha ainda tá mugindo.”

O problema? Enquanto ele dá aula de assamento e reconta pela trigésima vez a história do churrasco de 1998 que “foi perfeito”, a carne vai passando do ponto e a turma começa a beliscar o pão de alho como refeição principal.

Mas a verdade é que, no fim, ninguém tem coragem de tirar o pegador das mãos dele. Porque por trás da fanfarronice e do ego grelhado, o churrasqueiro é o coração do evento. É quem chega cedo, acende o fogo, garante que ninguém fique de copo vazio e, quando todos vão embora, ainda limpa a grelha.

Como não amar?

Churrasco é ciência (e arte): temperos, cortes e controvérsias

Falar em churrasco é mergulhar num universo técnico, mas carregado de emoção. Picanha ou costela? Sal grosso ou marinada? Carvão ou lenha? A resposta certa muda conforme o CEP — e o gosto do assador.

Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Carnes (ABIEC), o Brasil consome mais de 5 milhões de toneladas de carne bovina por ano, e uma parte considerável vai para a grelha. Mas não só de boi vive o brasileiro: frango, linguiça, pão de alho, queijo coalho e até legumes temperados ganharam vez na grelha moderna.

Curiosidades na brasa: você sabia?

  • No Sul, a tradição do churrasco campeiro vem dos tropeiros e gaúchos que assavam carne no espeto, direto no fogo de chão.
  • Em Goiás e Minas, a galera curte o “churrasco na chapa”, geralmente com cortes suculentos de porco e frango.
  • Na Bahia, o espetinho de rua é rei — acessível, saboroso e embalado por pagode ou arrocha.
  • Até churrasco vegano tem vez hoje em dia, com abobrinha recheada, berinjela grelhada e cogumelos defumados.

Mais que comida: o churrasco como símbolo de resistência e afeto

Durante a pandemia, muitos churrascos viraram lives, janelas e drive-thru, mas não deixaram de existir. “Era a forma de manter a família unida, mesmo à distância. Cada um fazia o seu e ligava por vídeo. A gente ria, brindava e sentia que estava junto”, conta a jornalista Helena Campos.

Hoje, mais do que nunca, o churrasco é também um gesto de resistência ao isolamento e à frieza dos tempos modernos. É a reafirmação de um valor simples, porém poderoso: estar junto é essencial.

Um brinde à chama que nos aquece

Em um mundo onde tudo parece correr rápido demais, parar para acender uma churrasqueira e reunir pessoas queridas é quase um ato revolucionário. O Dia do Churrasco é mais que uma homenagem à carne: é uma ode ao tempo compartilhado, às histórias recontadas, às risadas entre mordidas suculentas.

E aí? Vai uma linguicinha aí, ou prefere cuidar da farofa?