Paris está transformando 500 ruas em jardins para pedestres — e o carro não está convidado.

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Prefeitura avança com plano ambicioso para banir veículos e priorizar pedestres, árvores e qualidade de vida.

Paris está prestes a dar mais um passo radical em sua transformação urbana. Após uma consulta popular no último domingo, 66% dos parisienses aprovaram o projeto da prefeitura para converter 500 ruas em zonas exclusivas para pedestres, eliminando 10 mil vagas de estacionamento e plantando árvores onde antes passavam carros. A medida, que faz parte do plano da prefeita Anne Hidalgo para uma cidade mais verde e acessível, deve começar a ser implementada já em abril, com conclusão prevista em três anos.

Essas novas “ruas jardim” se somarão às quase 300 já transformadas desde 2020, criando corredores verdes que prometem reduzir a poluição, aumentar a segurança viária e devolver o espaço público às pessoas. O objetivo? Tornar Paris uma “cidade de 15 minutos”, onde tudo o que é essencial — trabalho, lazer, serviços — esteja a apenas um pequeno passeio a pé ou de bicicleta.

Um novo desenho para a cidade

O projeto, orçado em 250 milhões de euros, não é apenas sobre tirar carros das ruas, mas sobre reimaginar o que uma metrópole pode ser. As vias selecionadas serão fechadas para veículos, ganhando bancos, canteiros floridos e áreas de convívio. Em vez do ronco de motores, o som predominante será o de conversas, risadas e o farfalhar das folhas ao vento.

“Queremos uma cidade mais respirável, onde as crianças possam brincar na rua e os idosos caminhar sem medo”, explica Hidalgo. A estratégia inclui:

  • Limite de 30 km/h para carros em toda a cidade (já em vigor desde 2021).
  • Taxas mais altas para SUVs, desestimulando veículos poluentes.
  • Expansão da malha cicloviária, que já ultrapassa 1.000 km após os preparativos para as Olimpíadas de 2024.

O sonho da “Cidade de 15 Minutos”

A ideia por trás do plano é simples: diminuir a dependência do carro e aproximar serviços essenciais dos bairros. Em vez de enfrentar congestionamentos para ir ao trabalho ou ao mercado, os parisienses poderão resolver suas necessidades diárias em trajetos curtos — a pé ou de bike.

Estudos mostram que essa abordagem não só reduz emissões, mas também fortalece o comércio local e a sensação de comunidade. “Antes, esta rua era só um caminho para carros. Agora, virou um lugar onde as pessoas param, conversam, tomam café”, relata Sophie Laurent, dona de uma livraria no 11º distrito, onde uma via foi recentemente transformada.

Desafios e críticas

Nem todos, porém, comemoram. Comerciantes temem que a falta de estacionamento afaste clientes, e motoristas reclamam do “assedio” a quem ainda depende do carro. A prefeitura promete compensações, como entregas otimizadas para lojas e mais transporte público, mas o debate segue acalorado.

Outro ponto de tensão é a perda de vagas: 10 mil espaços deixarão de existir, pressionando ainda mais um sistema já saturado. Para Hidalgo, porém, a troca vale a pena. “Não podemos continuar sacrificando saúde e bem-estar em nome do automóvel”, defende.

O Futuro é verde — e sem carros?

Paris não está sozinha. Cidades como Barcelona, Amsterdã e Bogotá também estão redesenhando suas ruas para priorizar pedestres e ciclistas. O movimento reflete uma mudança global: o fim da era em que o carro era o rei das metrópoles.

Enquanto as obras começam, uma pergunta fica no ar: será este o modelo do urbanismo do século XXI? Se depender dos parisienses, a resposta parece clara. Afinal, como diz um morador do Marais, “uma rua sem carros não é só mais bonita — é mais viva”.