13 de Maio: a ferida aberta da escravidão no Brasil contemporâneo

Imagem de freepik

Abolição incompleta: quando a liberdade ainda não é realidade.

Neste 13 de maio, data que marca oficialmente o fim da escravidão no Brasil, o país não apenas relembra o passado, mas encara o presente. Mais de 135 anos após a assinatura da Lei Áurea, a população negra brasileira segue enfrentando as marcas profundas de um sistema que, embora extinto no papel, mantém suas raízes vivas na exclusão e no racismo estrutural.

O Legado da Escravidão

A escravidão durou mais de três séculos no Brasil, deixando uma herança que ainda molda a sociedade. Como afirmou a historiadora Lélia Gonzalez, “a abolição não significou a libertação plena dos negros, mas a continuidade da marginalização”. Essa exclusão se reflete em números alarmantes. De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 75% das vítimas de homicídios em 2021 eram negras. A violência racial, longe de ser página virada, é uma realidade cotidiana.

Vozes da Resistência: Líderes que Denunciam e Inspiram

Lélia Gonzalez: O Racismo Como Estrutura

Pioneira no pensamento sobre racismo no Brasil, Lélia Gonzalez já alertava nos anos 1980: “Não é só no 13 de maio que a gente tem que falar. A luta é todo dia”. Sua análise mostrou como o racismo persiste por meio de mecanismos sociais invisíveis e institucionalizados.

Abdias do Nascimento: Da Arte à Política

Fundador do Teatro Experimental do Negro e deputado federal, Abdias do Nascimento denunciou a farsa da abolição: “Libertou os escravos da fazenda, mas os aprisionou nas periferias das cidades”. Ele foi um dos primeiros a propor políticas de reparação e inclusão.

Sueli Carneiro: A Interseccionalidade em Foco

Fundadora da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras, Sueli Carneiro aponta que o racismo no Brasil “não é só uma questão de cor, mas um projeto de poder”. Sua luta une raça, gênero e classe como dimensões inseparáveis da exclusão.

O Peso de Uma História Mal Resolvida

A abolição não promoveu inclusão. Segundo o IBGE:

  • Negros representam 75% das vítimas de homicídio no país;
  • A renda média de trabalhadores negros é 40% menor do que a de brancos;
  • Apenas 12,8% dos doutores no Brasil são negros.

Esses dados escancaram uma desigualdade que resiste ao tempo — e à Constituição.

Imagem de Colleen por Pixabay

Violência Institucional: A Herança da Escravidão

O racismo no Brasil é sistêmico. Jovens negros têm 2,6 vezes mais chances de serem mortos em confrontos com a polícia, conforme pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O aparato estatal, em vez de proteger, muitas vezes ameaça quem deveria amparar.

Avanços Legais: Passos Lentos, Mas Necessários

Apesar das barreiras, conquistas jurídicas foram fundamentais:

  1. Lei Afonso Arinos (1951): Considerou o racismo contravenção penal;
  2. Lei do Racismo (1989): Criminalizou a discriminação racial;
  3. Estatuto da Igualdade Racial (2010): Instituiu políticas de promoção da equidade;
  4. Lei de Cotas (2012): Reservou vagas para negros em universidades públicas.

Djamila Ribeiro: A Urgência do Antirracismo

“Apenas não ser racista não basta. É preciso ser antirracista”, afirma Djamila Ribeiro. Sua atuação intelectual tem sido essencial para ampliar o debate sobre representatividade e transformação social.

Racismo Institucional: Uma Ferida Ainda Abertas

O sociólogo Joel Rufino dos Santos define: “O racismo no Brasil é estrutural”. A professora Nilma Lino Gomes, da UFRJ, reforça que “as políticas públicas precisam sair do papel para se tornarem efetivas”. O desafio está na implementação real de leis que já existem.

A Luta Pela Vida: Racismo Também Mata

A criminalidade, alimentada pela exclusão social, atinge com força a população negra. “A luta contra o racismo é uma luta por vida”, ressalta Djamila Ribeiro. Organizações como o Movimento Negro Unificado (MNU) têm papel essencial na mobilização social e na defesa dos direitos da população negra.

Exemplos que Inspiram: A Resistência Continua

Nomes como Marielle Franco, executada em 2018, continuam inspirando a luta. Mulher negra, favelada, socióloga e vereadora, Marielle simboliza a urgência de um Brasil mais justo e inclusivo. Sua memória segue como bandeira de resistência.

13 de Maio: Reflexão, Não Comemoração

Mais do que celebrar, o 13 de Maio deve servir como um chamado à ação. O fim oficial da escravidão foi apenas o início de uma longa caminhada pela liberdade real. Como diz o filósofo Achille Mbembe, “a liberdade não é um estado, mas uma prática constante de descolonização”.

O Desafio Presente: Ecoando Carolina de Jesus

A escritora Carolina Maria de Jesus, ao retratar a vida nas favelas, resumiu com precisão: “A escravidão acabou, mas o preconceito não”. Enquanto não houver investimento consistente em educação, saúde, moradia e oportunidades, a verdadeira abolição continuará sendo apenas uma promessa.

A Luta é Todo Dia

O 13 de Maio deve ser um convite à consciência e ao compromisso com a transformação social. A abolição foi só o começo. A construção de uma sociedade justa e igualitária exige esforço coletivo, ação política e coragem para enfrentar um passado que ainda vive no presente.