123 milhões de pessoas estão fora de casa forçadas por guerras e perseguições

Foto: ONU News_ OIM/Antoine Lemonnier

Relatório da ONU revela que uma em cada 67 habitantes do planeta foi deslocado em 2024: um recorde histórico.

O mundo enfrenta uma crise humanitária sem precedentes. Segundo novo relatório da Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), divulgado nesta quinta-feira, 123,2 milhões de pessoas continuam deslocadas à força no planeta. O número representa um aumento de 7 milhões em relação ao final de 2023, equivalente a 6% de crescimento.

A proporção é alarmante: uma em cada 67 pessoas no planeta está deslocada de sua casa. Além disso, os dados confirmam uma tendência crescente que se mantém há 13 anos consecutivos, consolidando o deslocamento forçado como um dos maiores desafios humanitários da atualidade.

Sudão Assume Liderança Dramática

O Sudão, devastado por uma guerra civil que já dura dois anos, tornou-se o país com a maior crise de deslocamento do mundo. Com mais de 14 milhões de pessoas deslocadas, o país africano ultrapassou os 13,5 milhões da Síria. O conflito entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF) e as Forças de Apoio Rápido (RSF) criou uma situação catastrófica.

Os números são ainda mais impactantes quando analisados proporcionalmente. Um terço de toda a população do Sudão vive atualmente a maior crise de deslocamento interno já registrada na história do país. O aumento de quase 600 mil sudaneses refugiados, que chegaram aos atuais 2,1 milhões, estabeleceu um novo recorde global.

Síria: Mudança de Cenário Histórica

Paralelamente, a Síria experimenta uma transformação sem precedentes. Após a queda do regime de Bashar al-Assad pelas forças da oposição, o país registrou um movimento significativo de retorno. Cerca de 500 mil refugiados e 1,2 milhão de deslocados internos retornaram às suas casas, sinalizando uma mudança de cenário após anos de conflito.

Contudo, especialistas alertam que essa mudança ainda é incipiente. O processo de reconstrução e estabilização do país exigirá tempo e recursos consideráveis para garantir retornos seguros e sustentáveis.

Solicitações de Asilo Batem Recorde

O número global de requerentes de asilo atingiu 8,4 milhões em 2024, representando um crescimento de 22% em relação ao ano anterior. Essas são pessoas que buscam proteção internacional devido à perseguição ou ao medo de sofrer danos em seus países de origem.

Os dados revelam que 73% dos 42,7 milhões de refugiados estão abrigados em países de baixa e média renda. Além disso, 67% encontram-se em nações vizinhas aos seus países de origem, demonstrando como a crise impacta desproporcionalmente os países menos desenvolvidos.

Retornos Voluntários: Um Raio de Esperança

Apesar do cenário crítico, o relatório identifica aspectos positivos. Um total de 9,8 milhões de pessoas retornaram às suas casas em 2024, incluindo dois milhões de sírios. Esse número representa o segundo maior registro anual de retornos de deslocados internos da história.

Entre os casos de retorno, destacam-se também os movimentos de afegãos e haitianos. Entretanto, o ACNUR enfatiza que todos os retornos devem ser voluntários, preservando a dignidade e a segurança das pessoas durante o processo de reintegração.

Conflitos Prolongados Alimentam a Crise

Os conflitos prolongados no Sudão, Mianmar e Ucrânia foram responsáveis por 73,5 milhões de pessoas forçadas a buscar abrigo dentro de seus próprios países. Essa realidade demonstra como guerras que se estendem por anos criam ciclos de sofrimento e instabilidade regional.

O Alto Comissário para Refugiados, Filippo Grandi, caracteriza o momento atual como de “intensa volatilidade nas relações internacionais”. Segundo ele, as guerras em curso criaram “um cenário frágil e angustiante, marcado por intenso sofrimento humano”.

Impacto dos Cortes de Ajuda Humanitária

O relatório também destaca o impacto negativo dos cortes de ajuda financeira internacional registrados em 2024. Essas reduções comprometem a capacidade de resposta humanitária justamente quando as necessidades atingem níveis recordes.

A agência caracteriza os deslocamentos atuais como “insustentavelmente altos”, sinalizando a urgência de uma resposta coordenada da comunidade internacional.

Recomendações para o Futuro

Para enfrentar essa crise, o ACNUR recomenda a consolidação da paz a longo prazo e maiores avanços no desenvolvimento sustentável. A agência enfatiza que as soluções duradouras dependem de investimentos em estabilidade política, reconstrução econômica e fortalecimento das instituições democráticas.

A tendência de crescimento contínuo do deslocamento forçado representa um desafio multifacetado que exige não apenas respostas humanitárias imediatas, mas também estratégias preventivas robustas. Até abril de 2025, o ACNUR estima uma ligeira diminuição para 122,1 milhões de pessoas deslocadas, mas alerta que a confirmação dessa tendência dependerá da dinâmica dos principais conflitos.

O cenário global de deslocamento forçado reflete, assim, não apenas crises individuais, mas a necessidade urgente de maior cooperação internacional para abordar as causas estruturais dos conflitos e promover soluções sustentáveis para milhões de pessoas em busca de segurança e dignidade.