Cinco novas espécies botânicas encontradas no Espírito Santo são oficialmente reconhecidas pela Ciência

Cinco novas espécies botânicas encontradas em fragmentos de Mata Atlântica do Espírito Santo foram oficialmente descritas para a Ciência este ano. As amostras das plantas que tornaram a identificação das novas espécies possível foram coletadas na Reserva Natural Vale (RNV), área conservada de Mata Atlântica mantida pela Vale em Linhares, no Norte do Espírito Santo, e em áreas próximas ao local. Com cerca de 23 mil hectares, a RNV é um dos últimos remanescentes de Floresta de Tabuleiro, uma das formações mais ameaçadas da Mata Atlântica no país, e abriga diversas espécies de flora raras ou ameaçadas de extinção.

Foram anos de pesquisa e observação na floresta, obedecendo ao ciclo reprodutivo das respectivas plantas, até que se tivesse a certeza de que se tratava, de fato, de espécies botânicas até então desconhecidas para a Ciência. Batizadas de Cinnamomum baitelloanum, Mezilaurus sessiliflora, Ocotea batata, Williamodendron itamarajuensis e Dinizia jueirana-façao, os novos indivíduos receberam os nomes vulgares de canela vermelha, canela-de-pombo, canela-batata, canela-prata e jueirana-fação, respectivamente. Os artigos científicos que descrevem as novas espécies e evidenciam a descoberta foram publicados neste ano nas revistas Harvard Papers in Botany (EUA), Phytotaxa (Nova Zelândia) e KEW Bulletin (Inglaterra), que figuram entre as publicações mais relevantes do ramo científico tanto no que diz respeito à flora, quanto à fauna.

Gigante

Entre as novas descobertas merece destaque a Dinizia jueirana-facao, primeira espécie do gênero Dinizia para a Mata Atlântica a ser oficialmente reconhecida pela Ciência. Esse dado torna a descoberta ainda mais relevante, já que, até então, esse gênero era encontrado somente na Floresta Amazônica. A novidade, porém, veio acompanhada de uma notícia alarmante. Com mais de 30 metros de altura e considerada criticamente ameaçada de extinção pela União Internacional pela Conservação da Natureza (IUNC), até o momento a árvore só foi registrada em duas populações no Espírito Santo: uma na Reserva Natural Vale (RNV), numa área de 43 hectares e onde foram identificados 12 indivíduos adultos; e outra, numa área de aproximadamente 65 hectares vizinha à RNV, localizada no município de Sooretama, onde também foram registrados em torno de 12 indivíduos adultos.

Descrito pela primeira vez há aproximadamente um século, o gênero Dinizia vinha sendo tratado como monoespecífico, ou seja, que compreendia uma única espécie, a Dinizia excelsa Ducke, vulgarmente conhecida como Angelim-vermelho, árvore que ocorre nas florestas amazônicas não alagadas da Guiana, do Suriname e de outros sete estados do Norte e do Centro-Oeste do Brasil. “Essa descoberta deixa clara a grande lacuna de conhecimento que existe em relação à Mata Atlântica e à sua biodiversidade. Por isso a importância de se preservar e conhecer de forma mais aprofundada os fragmentos florestais deste bioma que ainda existem”, alerta o biólogo e curador do herbário da Reserva Natural Vale Geovane Siqueira.

Pesquisas

A Reserva Natural Vale é também considerada um grande banco genético e abrigo de diferentes espécies flora da Mata Atlântica. Desde 1981, são feitas coletas sistematizadas na área, o que tem trazido resultados de novas espécies botânicas descritas para a Ciência, chegando a mais de 100. Nos últimos sete anos, 38 novas espécies de flora foram descritas a partir de material coletado na Reserva Natural Vale e no entorno.

Para embasar as pesquisas com flora, a Reserva conta com um Herbário, ou seja, uma coleção de plantas secas que contribui para o conhecimento da flora da Mata Atlântica. Como resultado desse trabalho, mais de 3.600 espécies de plantas já foram catalogadas com um total de 15.734 exsicatas, que podem ser consultadas tanto in loco, quanto virtualmente, por meio do site.

Esse compartilhamento de informações, que teve início desde 1981, quando o Herbário foi indexado e registrado no Index Herbariorum World, proporcionou a descoberta de espécies e gêneros da Mata Atlântica que até então eram desconhecidos pela Ciência.

Atualmente, amostras de espécies botânicas coletadas na Reserva integram o acervo de diferentes herbários do Brasil e do mundo. É o caso do Virtual Botanic Garden, do New York Botanical Garden, do Missouri Botanical Garden (USA) e do Royal Botanic Gardens (Reino Unido), alguns dos maiores herbários do mundo que também disponibilizam o material para consulta pela internet. No Brasil, o com material coletado na Reserva é depositado no Instituto de Botânica de São Paulo, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entre outros.

Com cerca de 30 metros de altura, árvore é classificada como ameaçada de extinção.