Brasileira ganha prêmio da ONU por invenção que purifica a água

O Aqualuz é uma invenção de baixo custo, fácil manutenção e pode durar até 20 anos., by Pnuma/Todd Brown

A solução que Anna Luísa criou fornece água potável para comunidades usando energia solar.

Sete jovens empreendedores com menos de 30 anos foram reconhecidos por suas grandes ideias para mudanças ambientais. Entre os novos Campeões da Terra, anunciados nesta terça (17), está Anna Luísa Beserra, que venceu na categoria América Latina e Caribe.

Anna Luísa Beserra, venceu prêmio da ONU “Campeões da Terra”

A brasileira de 21 anos criou o Aqualuz, uma tecnologia que purifica água por meio de radiação ultravioleta. O dispositivo é acoplado às cisternas, reservatórios de coleta de água da chuva comumente utilizados no Semiárido brasileiro, e elimina 99,9% das bactérias, sem usar nenhum produto químico.

Prêmio

O Campeões da Terra é o principal prêmio da ONU para pessoas cujas ações tiveram um impacto positivo e transformador no meio ambiente. Em entrevista à ONU News de Salvador, no Brasil, Anna falou sobre o incentivo que a conquista traz para o Aqualuz.

 “Foi algo surpreendente que inclusive eu comentava com a equipe que eu não tinha a esperança e nem expectativa nenhuma de ganhar essa premiação pelo grau de importância que ela tinha e pela maturidade do projeto. Só a notícia foi espetacular, compartilhar com a equipe, todo mundo se emocionou, ficou bem animado, e a gente começou até a ficar mais motivado para já na premiação conseguir levar o máximo de resultados possível, com mais exportações, mais avanços na tecnologia, tudo voltado para beneficiar as pessoas que mais precisam no semiárido do acesso à água potável.”

Água

A água é um recurso fundamental para a vida no planeta. Porém, de acordo com a ONU, o acesso à água potável ainda não é uma realidade para mais de um quarto da população mundial.

As doenças diarreicas estão entre as principais causas de morte em todo o mundo, e estão diretamente ligadas à falta de água potável e à falta de saneamento e de acesso à higiene. As Nações Unidas apontam que esses problemas atingem principalmente populações jovens, vulneráveis ou que vivem em zonas rurais remotas.

Semiárido

Anna, que é da Bahia, contou à ONU News que o Aqualuz iniciou de uma forma simples e que a inspiração veio da realidade do Semiárido no Brasil, no nordeste do país.

 “O Aqualuz surgiu quando eu ainda tinha 15 anos e estava no ensino médio, e como eu sempre quis ser cientista, surgiu uma grande oportunidade que foi participar do prêmio Jovem Cientista do Cnpq. Em 2013, era o ano internacional pela cooperação da água e então o tema era água. E daí, como eu sou de Salvador, sou baiana, apesar de nunca ter morado no interior e no semiárido de fato, eu sempre soube da necessidade de acesso à água dessa região. E foi algo que eu escolhi trabalhar de uma forma que eu pudesse desenvolver uma tecnologia que fosse simples e viável para aplicar nessas regiões.”

A brasileira, de 21 anos, criou o Aqualuz, uma tecnologia que purifica água por meio de radiação ultravioleta.

A brasileira, de 21 anos, criou o Aqualuz, uma tecnologia que purifica água por meio de radiação ultravioleta., by Pnuma/Todd Brown

A diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma, Inger Andersen, destacou que o “planeta com estresse hídrico está sofrendo o peso da extração incessante, da poluição e da mudança climática.”

Para ela, é vital que se encontrem “novas formas de proteger, reciclar e reutilizar este precioso recurso” e que “tornar a água potável acessível e segura a todos e todas é vital para atingirmos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”.

Futuro

De acordo com o Pnuma, o Aqualuz é uma invenção de baixo custo, fácil manutenção e pode durar até 20 anos. A iniciativa já distribuiu água potável para 265 pessoas e alcançará mais 700 ainda este ano.

Embora tenha sido testado apenas no Brasil, o dispositivo tem potencial para ser aplicado em outros países. Os vencedores do Campeões da Terra receberão o prêmio durante a Cerimônia em Nova Iorque no dia 26 de setembro, coincidindo com a reunião anual da Assembleia Geral das Nações Unidas e a Cúpula de Ação Climática.

África e Ásia

Anna quer aproveitar a chance para expandir os horizontes do Aqualuz.

 “Esse prêmio fornece uma grande oportunidade para a gente de fazer conexões com pessoas na África e até na Ásia para tentar expandir essa tecnologia. Já disse para a equipe que a gente vai levar uma unidade na mala para poder entregar a alguém que possa levar e implantar em algum país do continente Africano. Eu já estou mirando, na verdade, uma ganhadora da África, que é uma Angolana, e aí eu vou tentar fazer contato com ela e convencer ela a nossa ajudar de expandir o Aqualuz e já tentar salvar vidas na África.”

Uma iniciativa de Angola também venceu o Prêmio Campeões da Terra. A premiada é Adjany Costa, que se destacou por seus esforços para conservar água e a biodiversidade no país.